Ser referenciada por alguém ou receber convites para participar de “lives” é bem comum no mundo digital. Mas, por mais comum que seja, quando acontece com a gente, dá um quentinho no coração.
Sabe quem me referenciou pela primeira vez no LinkedIn? E quem me convidou para a minha primeira Live? Isso mesmo que você deve estar pensando – o nosso convidado da vez, o Esdras Pereira.
Fazemos parte do grupo de “Escrita criativa e Storytelling” do Dimitri Vieira e posso dizer que nossos conteúdos, palavras e afinidades com o mundo da escrita e a simplicidade da vida nos uniu.
Um comentário dele em um post meu, sobre Comunicação, o inspirou a escrever um artigo e, claro, que ele me marcou. Depois, veio o convite para a “live” em que falei pela primeira vez sobre escrita e comunicação descomplicada e mais uma outra citação.
Confesso que, na ocasião, até pensei em recusar. Pode mais ingênuo que pareça, ter 50+ e me expor assim não estava nos meus planos, mas acabei participando e foi muito bom.
Já o considero um amigo querido e acima de tudo um jornalista e escritor que admiro muito.
Toda vez que leio um texto do Esdras, as palavras seguem reverberando em mim. Aprendo com ele que escrever com o coração tem o poder de sempre acabar tocando no coração de quem lê.
Como ele mesmo diz em seu perfil aqui no LinkedIn – “as palavras nunca voltam vazias”.
O jornalista escritor
Esdras é jornalista formado pela Universidade de Sorocaba desde 2016. Não escolheu cursar jornalismo por influência de algum parente.
Mas, pode-se dizer que os hábitos de seus pais tiveram peso importante em sua escolha – eles tinham coleção de gibis e faziam assinatura de um jornal, e Esdras era leitor assíduo das revistinhas e da seção de esportes que tinha facilmente à mão.
No ensino médio, gostava muito de biologia e até pensou em seguir por esse caminho. Ao fazer um curso de biologia marinha em Ubatuba/SP percebeu que sua curiosidade pelo mundo que o cercava bem como a paixão pela escrita, leitura e os esportes, especialmente o futebol, falavam mais alto. Decidiu, então, que iria enveredar pelos caminhos do jornalismo e fazer coberturas esportivas.
E ele até chegou a fazer tais coberturas como repórter que, resumidamente, é quem apura e comunica os fatos diretamente ao público, mas, segundo ele, não foram as principais de sua trajetória profissional.
Uma cobertura dificílima e que o levou às lagrimas em frente às telas aconteceu em novembro de 2020, pela TV Tem, uma afiliada Globo em Itapetininga.
A matéria falava de uma tragédia. A colisão de um ônibus e um caminhão em uma rodovia de Taguaí, interior de São Paulo, em que mais de 40 pessoas morreram – o maior acidente rodoviário dos últimos vinte anos em rodovias paulistas.
Foi uma cobertura marcante e ele a fez com muita responsabilidade, zelo e respeito à dor das famílias envolvidas.
Esse episódio só reafirmou o quanto atuar como repórter representa na sua vida. Para Esdras, “a rua é o lugar em que mais se aprende” e acrescenta:
“o ofício de repórter diz muito sobre o quanto temos de ouvir pessoas para evoluirmos. Falar menos, cirurgicamente, e ouvir mais. Digo isso sobretudo em relação às pessoas que não costumam ser ouvidas. Via de regra, as ‘pessoas invisíveis’ à sociedade são as que carregam a maior capacidade de nos proporcionar lições incríveis, de nos tirar de nossas zonas de conforto”.
Crédito: arquivo pessoal do Esdras Pereira.
Esse amor e respeito às histórias de pessoas, muitas vezes invisíveis na sociedade, o levou a ser finalista por três vezes consecutivas de um prêmio jornalístico de Direitos Humanos, chamado “Prêmio ASI/Schaeffler”.
Esse prêmio acontecia anualmente em Sorocaba e ele ficou em 1º, 2º e 3º lugares com reportagens escritas nos anos de 2015, 2016 e 2017.
Olhar em constante movimento
Uma grande experiência pessoal do Esdras e que acabou influenciando ainda mais esse seu olhar sensível à vulnerabilidade humana foi ele ter morado na Irlanda por 8 meses.
Esse intercâmbio é para ele o grande responsável por fazê-lo entender que ele poderia realizar tudo o que desejasse, apesar de a síndrome do impostor bater à porta:
“Boa parte das pessoas, e aí me incluo, carrega a tal Síndrome do Impostor. Pensamos que não somos capazes de um montão de coisas. E ali, vivendo longe de casa, sem nenhum familiar por perto, passei a acreditar mais no meu potencial. Passei a ver que o mundo é muito grande para colocarmos crenças limitantes em nossas cabeças”.
Esse entendimento de que o seu potencial estava ali dentro dele, pronto para aflorar, não importasse as dificuldades ou desalinhos da vida, tem se renovado toda vez que ele sai para correr.
Uma paixão que ele incorporou na sua rotina desde 2017 e acaba sendo uma terapia, além de uma forma de se conectar consigo próprio e com a vida que está em constante movimento e transformação dentro e fora dele.
Essa é a capa do meu “planner” de 2021 e a frase estampada nele é de autoria do Esdras, bem como as frases dos cartões que estão ao fundo. Esse é um projeto conjunto dele com Craft Artese Layane Souza.
Agora, é a hora de dar voz a esse profissional e pessoa incrível.
Com a palavra, Esdras Pereira
1. De onde nasceu sua paixão por escrever? E quais as suas principais referências e influências na escrita?
Esdras: Não sei direito o porquê, sinceramente. Mas eu sempre gostei de criar histórias. Havia um professor, chamado Robson, que nos incentivava a criar a partir de um início que ele sugeria. Virava meio que um “campeonato” de redação em um determinado dia e, depois, quem quisesse, lia em voz alta para a sala. Eu amava aquela oportunidade.
Sobre referências e influências: leio de tudo um pouco, então acabo mergulhando em vários tipos de referencial. Agora mesmo, estou me dividindo entre três leituras: relendo 1984, de George Orwell; um livro de poesias de Fernando Pessoa; e um livro chamado “Tenho sérios poemas mentais”, de Pedro Salomão.
Antes, estava numa fase de ler mais livros de autoconhecimento e evolução pessoal. Acredito que referências e leituras nunca são demais. Ler gibi, como eu fazia na infância, já está valendo. “Errado” é não ler.
“A leitura é uma tremenda ferramenta de crescimento.” (Esdras Pereira)
2. O que o jornalismo, em especial sua atuação como repórter, te ensinou e que você traz para o seu universo de escritor?
Esdras: O jornalismo ensina sobre pessoas e seus comportamentos. Ensina sobre a construção da sociedade. Ensina sobre passado, presente e futuro. Ah, acima de tudo, nos mostra que muitas histórias merecem ser contadas. Então, o universo do escritor, um grande criador de narrativas (reais ou fictícias), fica muito mais abastecido.
3. Quais os principais desafios de escrever, seja literatura ou não?
Esdras: Diria que o principal desafio da escrita é encontrar a própria voz. Não querer ser o que não é. Parece besteira, mas é real.
Às vezes, nós, escritores, perdemos muito tempo nos comparando e tentando entender porque não somos um Machado de Assis, um Charles Bukowski, uma Elena Ferrante. Não somos porque nossa essência é outra e única, oras.
Quando quebramos essa barreira, e passamos a usar nossa própria voz, sem forçar a barra, a escrita flui muito mais naturalmente.
Aprendi muito com a Ana Holanda, recentemente, quando fizemos uma “live” juntos. Ela toca muito na tecla de entender o poder da palavra escrita. A partir disso, adiciono:
“temos de saber saborear as palavras que colocamos no papel. E saborear nem sempre é gostoso. As palavras também passeiam pelo ácido, pelo amargo, pelo insosso, até que possam chegar no suculento, no docinho. Enfim…” (Esdras Pereira)
4. O ato de observar é mesmo fundamental para quem escreve? Explique o que mais julga relevante quando o assunto é escrever, seja literatura ou um simples post nas redes sociais.
Esdras: Completamente. Eu considero a observação a ferramenta mais poderosa de quem persegue a evolução na escrita.
Você pode ser um dicionário ambulante, ter o vocabulário mais rebuscado do mundo, mas se não souber observar, não sai do lugar. De que adianta falar um monte de palavras bonitas se não consegue entender o que está ao seu redor, diante de seus olhos?
“Amo a simplicidade da vida. E a observação é parte dessa simplicidade. Não preciso ter um milhão de palavras bonitas na cabeça até observar um João de Barro construindo seu lar, por exemplo. As palavras mais simples é que provavelmente vão se tornar as mais bonitas quando você reflete sobre a potência do que está ao lado. E elas começam a sair naturalmente quando você aprende a observar.” (Esdras Pereira)
5. Que artigo você escreveu e que gostaria de destacar? Por qual razão?
Esdras: Gostaria de selecionar um dos meus mais recentes artigos aqui no LiknedIn – “Produção de conteúdo: os perigos da menina dos olhos da atualidade”.
Penso ser necessário discutirmos os rumos da produção de conteúdo. No sentido de quantidade x qualidade x remuneração por isso, e também no aspecto do “até que ponto uma postagem x, y, z é de fato um CONTEÚDO?
Digo isso porque há muita comparação nesse universo. E há muita gente boa desenvolvendo crises de ansiedade, depressão e afins por pensar que não produzem conteúdos bons o suficiente. As pessoas precisam entender que o algoritmo não é tudo. E entender também que ele é traiçoeiro.
“Flopar”, ou ter poucas visualizações ou curtidas nas redes, não significa que você não vale nada. Assim como viralizar não quer dizer que você é incrível. Precisamos ter muito equilíbrio sobre as métricas da vaidade.
Minha namorada, Claudia, escreveu uma frase no quarto da casa da mãe dela que diz o seguinte: “Tudo o que é seu encontrará uma maneira de chegar até você”. O mesmo vale para o reconhecimento. Se você trabalha direito, uma hora vai acontecer. É gradual, é um processo.
6. Você já tem duas publicações na Amazon, o “Vida Vivida” e a “A Redenção de Rita”. O que te moveu a fazê-las? Parafraseando Caetano Veloso, pode contar “as dores e as delícias” de publicá-las?
Esdras: A “Redenção de Rita” foi um conto que publiquei na Amazon. Uma história que eu precisava tirar de dentro de mim. Tratei como uma ficção total, de início, mas aqui, em primeira mão, conto que teve muita realidade por ali.
Rita, uma personagem que vive uma dependente química, na verdade é uma pessoa próxima. Como citei no caso da observação, às vezes, os textos já estão dentro de nós, basta colocarmos para fora. Me orgulho muito dessa primeira publicação.
Sobre “Vida Vivida”, trata-se de um compilado de textos que escrevi durante a pandemia, período em que escrevi mais do que nunca, certamente. É um outro orgulho, principalmente porque pude realizar o sonho de ter uma publicação impressa em minhas mãos e que fez a diferença na vida de algumas pessoas.
7. Você tem o tal do bloqueio criativo? Pode dar dicas do que fazer para lidar com isso?
Esdras: Vera, talvez possa soar como falta de humildade, mas não. Já passei por isso, claro. Só que hoje lido muito mais tranquilamente e quase não enfrento.
Na verdade, meio que não tenho o direito de enfrentar. Explico: como trabalho com jornalismo, tenho de escrever os textos das reportagens todos os dias praticamente. Então não posso chegar para os editores e dizer: “ei, estou com um bloqueio criativo, hoje não consigo entregar a reportagem”.
E, mais uma vez, sinceramente, acredito muito na escrita como disciplina. Existe dom, talento? Claro. Mas há disciplina também.
“Se você se propuser a escrever um texto todos os dias, sobre o tema que tiver mais aptidão naquelas 24 horas, o bloqueio criativo dificilmente acontecerá.
Ah, e de novo: a observação também é uma grande aliada. Mais observação, menos bloqueio criativo”. (Esdras Pereira)
8. Você tem os seus rituais de escrita? Como te ajudam na hora de escrever?
Esdras: Não acredito muito em rituais nesse caso. A escrita, no meu caso, é um processo muito natural. Às vezes, anoto algumas possíveis inspirações que podem virar textos, penso em referências e assim por diante. Mas não tenho grandes rituais. Talvez, tenha uma “mania”: por ser uma pessoa meio ansiosa, não gosto de pausar textos no meio. Prefiro escrevê-los numa tacada só.
9. Qual sua relação com o mundo da escrita, “amor ou guerra”?
Esdras: Amor, com certeza. Só que sabemos que histórias de amor podem ser doloridas, né? Então, escrever não é só sobre colocar prazeres na folha em branco. As cicatrizes, as feridas, os machucados da vida também merecem ser externalizados. Escrita ajuda e acelera curas internas.
10. Se você tivesse que conversar com um(a) escritor(a) qual seria, por qual razão e o que você gostaria de falar ou perguntar a ele(a)?
Esdras: Teria curiosidade em conversar com George Orwell, para saber como ele conseguiu ser um escritor tão à frente de seu tempo. À frente no pensar de rumos da sociedade, do mundo.
Dicas que gostaria de recomendar
Livro
Filme – “Filhos de Istambul” (Netflix)
Áudiosérie – “Paciente 63” (Original Spotify)
Documentário – “Privacidade Hackeada” (Netflix)
Podcast – “Foro de Teresina” (Revista Piauí) (Spotify)
Música – “Oceans”(Seafret)
Frase ou palavra que te inspira
“Vivemos um mundo repleto de julgamentos, sobretudo com as redes sociais se tornando grandes tribunais de júri virtuais. Então, uma frase que eu e minha terapeuta discutimos muito em sessões: ‘Julgar diz muito sobre o julgador, e não sobre o julgado’ “. (Esdras Pereira)
Espero que você tenha curtido essa entrevista com o querido Esdras Pereira.
Acompanhe os conteúdos do Esdras e caso queira receber uma mentoria ou consultoria para melhorar sua escrita e a comunicação verbal, é só falar com ele! 😉
No LinkedIn, é só clicar em Esdras Pereira. Ou acessar seu perfil no Twitter ou no Instagram.
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Confira as entrevistas anteriores da série “Com a palavra”
#1 Vanessa Cioffi – “Saiba como o autoconhecimento pode te ajudar a se comunicar melhor”
#2 Maria Vitória – “Conheça o poder transformador da escrita”