Sinto que tem sido cada vez mais difícil manter a concentração nas tarefas do dia a dia, especialmente com essa pandemia que parece não ter mais fim.
Segundo pesquisa do Centro de Inovação da Fundação Getúlio Vargas (FGV EASP), em maio de 2020, o trabalho remoto, que muitos tiveram que adotar obrigatoriamente na pandemia, trouxe um desequilíbrio muito grande entre as atividades profissionais e pessoais.
Grande parte da população que precisou trabalhar em esquema de home office, já enfrentava dificuldades para administrar o próprio tempo e a rotina. E 36% não conseguia manter a concentração no trabalho. Fora isso, houve aumento da ansiedade, depressão e estresse, ou seja, um abalo da saúde mental e emocional que vem sendo muito falado na mídia.
Que dirá agora, depois de mais de um ano em que o vírus parece não dar sossego, se mutando a cada instante e se alastrando sem freio nenhum?
Novos termos para novos sentimentos
Conforme palavras de Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), em reportagem à revista Veja (n. 48, p. 58-63, dez.2021) faz parte da natureza do vírus mudar – “É o que eles fazem” – e obviamente, cabe a nós, humanos, nos adaptarmos.
O Covid-19 não apenas agravou os altos índices de pessoas com transtornos mentais, mas trouxe novas preocupações. E os especialistas até criaram novos termos para designar os sentimentos e estado das pessoas nesse contexto.
Um deles é a “fadiga pandêmica”. Segundo o site do Ministério da Saúde:
“Fadiga pandêmica, por exemplo, é a terminologia adotada pela OMS para designar o cansaço e o esgotamento físico e mental provocados pela pandemia. As restrições na vida social, financeira, entre outras dimensões, aumentam a falta de perspectiva e diminuem o poder de planejamento. Nada disso é, em si, um sério transtorno psíquico, mas esse tipo de sofrimento prolongado pode, segundo a organização, gerar ansiedade, depressão e insônia, mesmo em quem não apresentava qualquer tendência prévia”.
Outras delas é o languishing:
“Outra expressão que ganhou popularidade foi o definhamento (“languishing”, no termo original, em inglês), criada pelo psicólogo inglês Adam Grant. Os sintomas mais comuns são: estagnação, falta de propósito e de motivação, dificuldade de concentração e queda de rendimento no trabalho. Para ele, essa falta de alegria e de objetivos, ou seja, o vazio, está entre o bem-estar e a depressão. Em outras palavras, não há uma doença mental instalada, mas tampouco indicativos de boa saúde. Dialogando com o conceito de fadiga pandêmica, o definhamento também é um sinal de alerta, pois pode se transformar em depressão e ansiedade no futuro, de acordo com o criador”.
Isso tudo infelizmente causa um sentimento de desesperança muito grande. Como bem diz a psicóloga Miriam Trudo, nesse texto do Ministério da Saúde: “a pandemia nos tirou muitas coisas, mas principalmente nos roubou a rotina e sem previsão de retorno”.
Mas em meio a esse contexto adverso, como ter o mínimo de equilíbrio e concentração para executar as tarefas diárias? E por que isso é importante?
Iniciativas do bem
Nesse cenário, a falta de concentração pode ser um dos sinais de que algo não vai bem. Pode até parecer menos relevante perto de outros sinais, como insônia, crises de pânico e ansiedade, etc, mas é importante dar atenção aos “menores desequilíbrios” para reverter o jogo a tempo de não se tornarem grandes abismos.
A boa notícia, se é que podemos dizer assim, é que há muitas iniciativas de amparo ao bem-estar.
Uma delas é o projeto Mapa da Saúde Mental que reúne uma equipe de psicólogos e profissionais da área de saúde e educação, além de pesquisadores, todos focados em trazer informações úteis para quem precisa equilibrar seu lado emocional nesse momento.
O site divulga:
- Iniciativas de atendimento gratuitas que estão presentes em várias cidades do País e podem ser localizadas pela inserção do seu CEP;
- Projetos de saúde mental para o público geral e para grupos específicos como mulheres, idosos, comunidade LGBTQI+, negros, pacientes com determinadas doenças como câncer, e profissionais de saúde, etc.
- Materiais on-line – como cartilhas sobre como lidar com situações de luto, de violência doméstica, etc.;
- Uma aba com “Guia de ajuda” para saber quem procurar e quando, como auxiliar e como receber ajuda.
Crédito: Giphy; Legenda: “Como você está!”
E você deve estar se perguntando – afinal, o que é concentração?
“Concentração” deriva do latim concentricus e significa “ter um centro comum”.
Originalmente, a palavra era usada para indicar a reunião de coisas ou pessoas em um único local, tanto que temos hoje as expressões “campo de concentração”, “concentração do time” que guardam esse significado-raiz.
Segundo o dicionário Houaiss da língua portuguesa, a palavra “concentração” tem vários significados dependendo do contexto. Isso acontece por a língua ser um organismo vivo e que está em constante evolução. Seguem exemplos:
Na área química, quer dizer “proporção em massa ou volume”: “o xarope estragou-se pela concentração exagerada que sofreu”.
Pode indicar também “o estado do que está reunido” – “há grande concentração de nuvens”; ou na acepção que estamos tratando nesse texto o “ato de efeito de orientar a atenção ou as energias para um tema ou objetivo determinado”, entre outras.
Então, entendo que ter concentração tem a ver com a capacidade de se manter atento, por um período, no foco escolhido. Para mim, se relaciona com o tempo de permanência e aprofundamento da atenção.
Foco tem a ver com saber avaliar e estabelecer prioridades para executar algo, ou em outras palavras, saber escolher o que é mais importante para você fazer em um determinado momento.
Três dicas simples para ajudar você a se concentrar melhor
Para melhorar sua concentração, e também o seu foco nas suas tarefas diárias, inclusive quando for escrever um simples e-mail, pratique uma dessas dicas ou todas (mal não vai fazer):
① Ouvir músicas com padrões que soam bem aos ouvidos e causam sensação de serenidade: instrumental, clássica, sons da natureza, música na sequência Fibonacci (conheci com a Flávia Lippi). Busque na web! 😉
② Fechar os olhos e respirar profundo mais vezes ao dia para acalmar e trazer a mente para o momento presente, se conectando com o que realmente importa.
Grande parte das informações que hoje recebemos vêm do sentido da visão, então fechar os olhos por uns instantes ajuda na concentração. Outra aliada desse processo é prestar atenção na respiração:
Por exemplo, inalar ou inspirar o ar pelo nariz, contando mentalmente até 3-4. E depois soltar ou expirar pelo nariz no dobro do tempo, no caso contando até 6 ou 8. Aprendi na Yoga e realmente é muito eficaz!
③ Realizar suas tarefas de trabalho ou estudo em um local organizado.
Segundo Alex Bretas, palestrante TEDx e facilitador de aprendizagem autodirigida, “manipular” o ambiente ajuda a reforçar sua autodisciplina. Aprendi isso em seu recente “Desafio: 10 dias de hábito de aprendizagem”.
Na ocasião, ele compartilhou que:
“Uma das maiores dificuldades ao tocar um novo projeto ou percurso de aprendizado é ter a autodisciplina necessária para persistir ao longo do tempo. E, para conquistar essa autodisciplina, uma das melhores coisas que você pode fazer é manipular seu ambiente”. (Alex Bretas)
Ainda segundo ele, “nosso sistema nervoso sempre prefere economizar energia. Tomar decisões é algo custoso para o cérebro. Por isso, se você já puder deixar tudo “automatizado”, as chances de você realizar a ação serão muito maiores”.
E eu penso que essa dica também possa ser aplicada não apenas em seus momentos de estudo e com o intuito de desenvolver sua autodisciplina.
Ter um ambiente organizado na hora de executar suas tarefas de trabalho, e aqui acrescento livre de distrações como o celular, favorece para canalizar sua energia para o que realmente interessa. E digo isso por experiência própria.
Obviamente, em casos em que falta de foco e de concentração aparecerem junto de outros distúrbios como alterações do humor, do sono, irritabilidade, etc., nada melhor que pedir ajuda.
Isso inclui contar com profissionais da área de saúde. Mas se a falta de concentração for algo pontual, creio que essas dicas possam de alguma forma ajudar.
Espero que tenha curtido essas dicas e se cuide. ❤️️
Crédito: Giphy; Legenda: “Sua mente importa”.
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Artigo originalmente publicado na Comunidade Marketing de Gentileza, incrementado e reformulado para o LinkedIn.
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Crédito da imagem de capa: Ariel Castillo no Pexels.
Descrição da imagem: em frente a uma janela, há um homem negro jovem lendo um livro sobre uma mesa, ao lado de uma caneca e com muitos livros ao redor.