Quando a gente pensa em diversidade e inclusão já logo vem à mente questões de raça, gênero e idade. Mas, sequer imagina que existem outros tipos de diversidade que merecem igual atenção como as pessoas neurodivergentes, que possuem um funcionamento cerebral diferente do considerado padrão – por exemplo, as PAS, ou pessoas altamente sensíveis que correspondem acerca de 20% da população mundial, entre outras.
A convidada desse episódio, a Paty Cozer, é uma PAS e já sofreu um bocado sendo taxada de “sensível demais”, “fresca” ou “estranha” por simplesmente ter em sua personalidade a característica de sentir de forma mais intensa e profunda do que as outras pessoas.
E não precisa ser altamente sensível pra pensar o quanto é ruim ouvir críticas, ficar de escanteio, ser rotulada, discriminada ou incompreendida só por ser diferente, não é mesmo?
O lado bom dessa história é que essa sensibilidade aguçada está longe de ser um defeito. Segundo as pesquisas feitas por estudiosas da alta sensibilidade, como Elaine Aron e Judith Orloff, essa característica é hereditária e “a cada 10 pessoas no mundo, 2 são altamente sensíveis”, ou seja, é um traço bem comum de se encontrar.
Para mim, é apenas e tão somente parte inerente de uma pessoa linda que conheci aqui na rede, uma joia rara, que tem contornado as pedras do caminho com muita força e nos brindado com um trabalho digno não de cinco estrelas, mas de uma constelação inteira.
Esse artigo-entrevista vai falar da trajetória dessa profissional ímpar, dos seus momentos áridos, mas também dos tempos frutíferos em que trouxe à tona sua voz para compartilhar o que sabe fazer com maestria – tocar a mente e o coração das pessoas com sua visão inteligente e sensível sobre o mundo.
Crédito: Arquivo pessoal da Paty Cozer.
Uma joia rara produzindo muitas pérolas por aí
Paty nasceu na cidade de Foz de Iguaçu, no estado do Paraná, que abriga uma das setes maravilhas da natureza – as Cataratas do Iguaçu.
Gosto de imaginar que esse foi o cenário perfeito para sua alta sensibilidade que se manifestou desde cedo não apenas por seu amor e respeito à natureza e animais em geral, especialmente os felinos, mas por sua paixão pelas palavras escritas.
Já aos nove anos teve sua história publicada numa coletânea da escola e esse é um dos momentos mais marcantes para ela. Ali, foi plantada a sementinha da carreira de escritora que abraçaria depois:
“Era sobre uma régua e um estojo. Pensa na criatividade da criança? Aquilo me encantou, porque teve premiação, noite de autógrafos e gente parabenizando meus pais, dizendo que eu seria uma grande escritora. É uma memória especial, porque desde então, nunca mais parei de escrever”. (Paty Cozer)
Foi um incentivo e tanto para ela continuar mergulhando no mundo das palavras com os quais tanto se identificava e arrisco a dizer, a ter o gostinho de se sentir incluída, ou menos “estranha” em relação ao mundo real, bem diferente do acolhedor mundo das histórias em que se envolveu desde que se alfabetizou e não parou mais.
Não à toa, optou por estudar Letras na faculdade e ela gosta de dizer que também fez a escolha para fugir dos números. Confessa que matemática foi um “verdadeiro pesadelo” para ela durante todo o ensino médio, então, ter a certeza de seguir estudando somente o que mais gostasse foi um alívio, além de muito recompensador.
Embora a maioria de quem opta pelo curso de Letras deseje dar aulas, isso não fazia parte dos seus planos, nem no longo prazo. Mesmo assim, continuou pelos caminhos das letras – se especializou em literatura latino-americana, o que acabou lhe abrindo portas para a carreira acadêmica, como pesquisadora na área de humanas. Daí, para se interessar em fazer o mestrado na Universidade de Coimbra/Portugal foi um pulo:
“(…) descobri um mestrado em Estudos Feministas que tinha tudo a ver comigo e com meus artigos mais recentes. O melhor é que eu poderia juntar o sonho de morar fora com a temática do feminismo, pois o mestrado era em Portugal. No mestrado, o que mais me encantou foram as questões sociais e linguísticas sobre ser mulher. Me abriu muito a cabeça e melhorou até a relação com minha mãe”. (Paty Cozer)
Crédito: foto do arquivo pessoal da Paty Cozer.
Novos mares pra navegar e novos ares pra criar
Mas, ao voltar para o Brasil em 2013, percebeu que, apesar de ter aprendido muito e realizado um de seus sonhos que era morar fora do país, a carreira acadêmica não era exatamente o que queria para deixar transbordar a sua expressão mais genuína.
Começou então, o que ela chama de uma jornada de altos e baixos até encontrar um novo caminho.
Deu aulas de inglês até meados de 2016 e, contrariando as suas próprias expectativas, se descobriu muito realizada. Não por ter desenvolvido um método próprio que é, sem dúvida, motivo de muita satisfação para ela, mas sobretudo pela oportunidade de se conectar com as pessoas:
“(…) as pessoas diziam que se sentiam à vontade, que eu criava um clima bom, uma atmosfera confortável. Me surpreendi com a confiança que eu conseguia gerar, com a sensação de calma, de acolhimento. Logo eu que vivia dizendo que não queria ser professora e não levava jeito! Considero toda minha experiência em sala de aula muito positiva”. (Paty Cozer)
Depois, decidiu se mudar para Florianópolis, onde trabalhou como revisora de textos, mas acabou pedindo demissão. Trabalhou com diversos clientes, até se assentar na carreira freelancer e hoje presta serviços como PJ para uma agência de publicidade.
Desde então, já deu muitas asas à sua mente fértil, sensível e criativa e produziu muitas pérolas – lançou seu primeiro livro, montou um curso sobre PAS, criou a mentoria da escrita ~gostosinha~ e entrou para o mercado de infoprodutos com a criação da primeira “Escola de Alta Sensibilidade” do Brasil que está agora sendo “polida” no melhor estilo Paty de ser e criar para acolher e encantar as pessoas.
É como se a menina que se sentiu abraçada um dia pelas palavras devolvesse ao mundo suas palavras em forma de abraço.
Em breve, pretende realizar uma formação em psicanálise clínica para ir mais fundo nos estudos sobre alta sensibilidade e poder oferecer um trabalho ainda melhor:
“Essa formação vai me permitir atender pessoas altamente sensíveis (PAS) com mais segurança e sinto que desse trabalho posso extrair trocas valiosas”. (Paty Cozer)
Âncoras e antenas a postos
Mesmo em períodos de turbulência, a sua sensibilidade aguçada sempre soube captar e filtrar o que realmente importava para sua vida – é como sua bússola interna.
Seus pais e avós, mesmo não tendo tido a oportunidade de estudar muito, lhe ensinaram o valor da humildade e da sabedoria que há em cada ser humano. São, por isso mesmo, uma grande influência e referência que ela levou para vida:
“Estudei em escola particular e humildade é um negócio que costuma passar longe, então fico feliz que meus pais nunca deixaram esse valor passar. Meus avós foram exemplos para mim sobre como tratar bem as pessoas”. (Paty Cozer)
Outra referência de peso são os estudos de psicologia ao qual tem se dedicado há algum tempo.
Paty faz terapia desde os 15 anos e ter descoberto que era uma PAS foi um divisor de águas em sua vida – não precisava mais se sentir um peixe fora d’água por simplesmente sentir demais.
O livro “Pessoas Altamente Sensíveis”, da psicóloga norte-americana Elaine Aron é uma das referências que a ajudou muito a enxergar a beleza do mundo PAS.
Aprendeu, por exemplo, que as PAS se caracterizam por processarem tudo o que é observado, lido, vivido de forma mais lenta e profunda; ficam sobrecarregadas com o excesso de estímulos, por exemplo, muito barulho ou muita agitação ao redor; por terem a empatia mais desenvolvida, têm a emoção à flor da pele e reagem de forma intensa a situações em que outras pessoas não se sentem da mesma forma.
Esse alto grau de empatia também lhes permite perceber detalhes e sutilezas que para muitos passam despercebidos e as tornam profissionais capazes de entregar trabalhos com aquele toque extra de diferenciação e personalização, hoje tão almejado pelo mercado.
Decidiu compartilhar esses seus aprendizados, fruto das suas pesquisas sobre as PAS, em um e-book gratuito que é um primor.
“Não somos todas iguais. As vantagens e qualidades que listei a seguir partem da minha experiência como PAS e da convivência que tive com outras PAS. Mas há sempre exceções, portanto, leve isso em consideração. Não precisamos de mais rótulos :)” (Citação da Paty Cozer em seu e-book, à pág. 50)
De PAS para PAS
Conheci a Paty virtualmente, no grupo de “Escrita Criativa e Storytelling” do querido Dimitri Vieira, e já senti uma identificação logo de cara com o conteúdo que ela publicava.
Ela fala muito sobre autoconhecimento, saúde mental, conteúdo lento e, claro, sobre pessoas altamente sensíveis. Esses assuntos me cativam demais e a Paty tem o poder de encantar com suas palavras.
Não é raro você ler nos comentários das pessoas que leem os seus conteúdos que parecem que estão sendo abraçadas por ela. Já senti isso várias vezes. Um desses textos que me marcaram é um que fala da gentileza nossa de cada dia que é perfeitamente possível de ser praticada, bastando um olhar atento e uma boa dose de empatia, mesmo para quem não é uma PAS – “10 atitudes gentis óbvias (que muita gente não pratica)”
Aos poucos, fui descobrindo outras coisas, por exemplo, que somos introvertidas; temos a alta sensibilidade em comum, conceito que aliás aprendi com ela; a matemática nunca foi nossa disciplina favorita (rs); já sofremos por esse sentimento de se “achar uma estranha no ninho” mais vezes do que gostaríamos; curtimos muito entender sobre a psicologia e o comportamento humano; ler sempre foi um porto seguro pra nós; amamos escrever, a natureza e as frutas vermelhas, nem se fala.
Ela, inclusive, é apaixonada por framboesas e mirtilos e vive dizendo que se pudesse ia ter uma plantação só de frutas vermelhas. 😍🍒🍅🍓
Ao fazer essa entrevista, achei curioso descobrir que tivemos trajetórias profissionais parecidas – eu e ela estudamos por um bom tempo na Universidade, e com foco em estudar literatura. Fizemos mestrado para seguir estudando, mas depois deixamos a vida acadêmica de lado.
Não tínhamos o objetivo de dar aulas, mas demos – ela de inglês e eu de inglês, português e literatura brasileira. Hoje, ela presta serviços como PJ para uma agência de publicidade, afinal os boletos não param, mas não desistiu de empreender com o seu conteúdo.
Agora, fique com o abraço, ops, com as palavras dessa maravilhosa.
Com a palavra, Paty Cozer
1. Quando se fala em sensibilidade muitas pessoas já torcem o nariz achando que isso é defeito ou frescura. Pode explicar o que significa ser uma “pessoa altamente sensível” (PAS) numa sociedade que nem sempre valoriza isso?
Paty Cozer: Ser uma pessoa altamente sensível (PAS) nada mais é do que ter um cérebro que processa tudo profundamente. Gosto muito da noção de neurodivergente, que conheci lendo o livro da Christine Schroeder, pois isso se aplica às PAS.
“Ser uma PAS não é doença, defeito e muito menos um problema, mas, como vivemos num mundo acelerado, pode ser um pouco mais desafiador cuidar de nós mesmas. As pessoas altamente sensíveis (PAS) tendem a sofrer com o excesso de estímulos ao seu redor e muitas vezes se sentem perdidas por terem sentimentos tão intensos”. (Paty Cozer)
Como isso nem sempre é compreendido no ambiente de trabalho ou mesmo nas relações pessoais, dá pra imaginar como as PAS necessitam de apoio emocional para lidar consigo mesmas.
Crédito: arquivo pessoal da Paty Cozer.
2. Como você se descobriu uma PAS. (Pessoa Altamente Sensível) e o que isso mudou em sua vida?
Paty Cozer: Descobri o conceito de alta sensibilidade em 2014, quando morava em Portugal. Eu estava iniciando o tratamento para ansiedade e mudando minha alimentação, quando a médica sugeriu que eu pesquisasse sobre pessoas altamente sensíveis (PAS).
Na época, os estudos eram rasos e havia muito menos informação do que hoje, então eu não dei tanta importância. Sabia que minha sensibilidade era intensa e me aborrecia por reagir de forma extrema em algumas situações, mas só comecei a compreender e lidar melhor comigo mesma em 2020, após diagnóstico de depressão.
Aconteceu muita coisa de lá pra cá, mas o mais interessante foi descobrir que eu não estava sozinha: pelo Instagram, conheci muitas pessoas altamente sensíveis que buscavam apoio.
A partir de conversas e pesquisas com essas pessoas, criei a “Escola da Alta Sensibilidade”, um curso on-line voltado para pessoas altamente sensíveis (PAS) que querem ressignificar suas histórias. No momento, as inscrições não estão abertas, pois estou reestruturando alguns tópicos. Só posso dizer que tá ficando lindo!
3. Como e por que dar vazão a sua sensibilidade, seja você uma pessoa PAS ou não, pode te ajudar na sua vida profissional e pessoal?
“Sensibilidade tá em falta. Sensibilidade pode ser útil em quase todos os momentos”. (Paty Cozer)
Saber ouvir, saber sua hora de falar, de se retirar, notar quando alguém não está legal, se respeitar, respeitar o tempo e espaço do outro, escolher com sabedoria no que você quer trabalhar primeiro e como empregar a sua energia são algumas vantagens de dar vazão à própria sensibilidade.
Quando você exercita a sensibilidade, as relações interpessoais melhoram.
4. Pode explicar o que é conteúdo lento ou “slow content”, em inglês? E por que você se identifica com esse conceito?
Paty Cozer: Conteúdo lento (ou “slow content”) é um conceito que surgiu para questionar a produção de conteúdo em escala industrial. É uma chance para reavaliar essa necessidade insana de estar sempre presente.
Eu me identifico com esse conceito porque sou uma tartaruga na corrida da produção de conteúdo, hahah!
“Para mim, diminuir o ritmo aumentou a conexão entre minhas ideias e o público. Gosto de dizer que as pessoas só se esquecem de você quando o seu conteúdo não é bom. Produzir com consciência e qualidade, a meu ver, vale mais do que seguir um cronograma de conteúdo raso”. (Paty Cozer)
Crédito: foto do arquivo pessoal da Paty Cozer.
5. O que eu preciso saber e fazer para produzir um “conteúdo lento”? Pode dar alguma dica?
Paty Cozer: Produzir lentamente envolve autoconhecimento, em primeiro lugar. Você pode não dar bola pra isso e se adequar a um calendário recheado de publicações. Ou, como eu, descobrir que isso te irrita e preferir se aprofundar em conteúdos mais espaçados.
“Acho importante mencionar que o conteúdo lento não é para pessoas lentas, é apenas uma forma de respeitar o seu ritmo”. (Paty Cozer)
Se ele é rápido e você gosta, ótimo, não precisa mudar. Já para quem se identifica com um “ritmo mais tartaruga”, as dicas são as seguintes: foco no relacionamento com o público.
Publicando conteúdos mais espaçados e focados, você terá mais tempo para compreender o que as pessoas realmente querem de você, ao invés de sair atirando para todo lado.
Constância também é outra coisa que precisa ser considerada. Ela é diferente de frequência. Ser constante é ser persistente, o que não significa publicar todo santo dia. Postar por postar não dá resultado, então construa uma estratégia. Conteúdo criado de um jeito marcante dá saudade.
6. Como administrar a sensibilidade, sendo PAS ou não, em tempos moldados por algoritmos, pressa, ânsia por engajamento e conteúdos rasos?
Paty Cozer: Ficando o mais longe possível de tudo. É sério: sempre que tiver essa chance, agarre, pois muitas vezes não dá pra atingir esse equilíbrio na rotina, não.
Defendo o isolamento, a calmaria, o celular desligado, as mensagens no vácuo, pelo nosso próprio bem. Entendo que não dá pra se desconectar de vez, ainda mais quando trabalhamos pela internet, mas tenho em mente que quanto mais distante, melhor.
As dicas que eu dou, tanto para quem é PAS quanto para quem não é, são:
- Fazer terapia, pra compreender quando você tá deixando suas emoções tomarem conta e se envolvendo demais;
- Parar de se comparar, urgentemente;
- Enfiar a cara nos livros físicos, de papel, pois demandam uma atenção específica que só faz bem, sobretudo para o cérebro altamente sensível;
- Impor limites a si mesma com relação ao uso de redes sociais e avaliar o que é mais dolorido e impacta negativamente.
No meu caso, dar um tempo do Instagram melhorou muito minha concentração e diminuiu a sensação de que eu estava sempre ficando para trás.
“Outro ponto que auxilia bastante é o pensamento a longo prazo. Conteúdo raso todo dia cansa, não marca, não desperta… prefiro trabalhar menos e melhor, ainda que isso signifique espaços de tempo maiores”. (Paty Cozer)
7. O que você teve que (re)aprender e desaprender em sua vida (pessoal ou profissional) e que hoje faz uma enorme diferença nas suas atuais atividades?
Paty Cozer: Demorei para assumir que não daria conta de tudo sozinha, como empreendedora. Aprendi que delegar é essencial e que ninguém cresce sem ajuda.
“Das coisas mais importantes que desaprendi, foi dar ouvidos ao meu ego e às métricas de vaidade. Acho que isso é comum quando estamos começando. A gente acaba dando muita importância aos números e se compara pra caramba”. (Paty Cozer)
Hoje, sou mais tranquila e tenho muita confiança no que eu faço. Claro que é uma delícia receber comentários e retorno, ainda mais na esfera pública, mas não deixo mais que isso defina a qualidade do meu trabalho e muito menos a minha capacidade.
E se você me perguntar qual é o segredo, eu vou dizer o que sempre digo: terapia!
Crédito: foto do arquivo pessoal da Paty Cozer.
8. Você criou o método ~escrita gostosinha~. Pode explicar como surgiu essa ideia e dar algumas dicas para quem quer tornar a sua escrita mais ~gostosinha~?
Paty Cozer: Mulher, tu acredita que essa história de escrever gostosinho surgiu a partir de comentários nos meus textos?
As pessoas diziam “Que gostoso te ler”, “Parece que estou na sua frente, conversando com você”, “Que delícia esse texto” e aí eu comecei a avaliar profissionais que me causavam essa mesma sensação gostosa durante a leitura.
“A partir disso, ficou fácil designar o que eu entendia por escrita gostosinha. Quando pedem dicas sobre isso, cito os três pilares com os quais trabalho: liberdade, autorrespeito e diversão.
Isso significa que se você se prende a regras, fórmulas, parágrafos e um certo tom de voz (por exemplo, tem muita gente com medo de ousar no LinkedIn, achando que aqui só se escreve formalmente, o que é um grande engano), as chances de ter um texto engessado e quadrado são enormes”. (Paty Cozer)
O segundo ponto, de autorrespeito, é bem o que o nome sugere: nada de seguir à risca os mandamentos do marketing digital ou aquela ideia maluca de postar todo dia, pois tudo isso trava, adoece e atrapalha os processos individuais de criatividade.
Autorrespeito é saber que você tem limite, e que a escrita genuína vem do coração, daquilo que te toca. De nada adianta forçar um texto pra cumprir tabela, o que nos leva ao último pilar, a diversão: se você não se diverte no processo, se você torna tudo rígido demais na própria escrita, vai faltar conexão… e aí, o tal reconhecimento que as pessoas tanto querem, pode demorar ainda mais pra chegar.
9. Como é o seu processo criativo? De onde você tira suas inspirações e como resolve seus eventuais bloqueios?
Essa pergunta sempre me deixa aflita porque parece que eu não tenho um processo. Quer dizer, talvez eu tenha, mas não saiba como documentá-lo. A escrita para mim nasce como um rompante, sabe?
Não tenho esse negócio de “ah, hoje vou acordar cedo, malhar, comer e depois escrever até sair alguma coisa que preste”. Comigo, não funciona.
“Posso dizer que o processo, se é que ele existe, é fluido. Se eu me sento e a página fica em branco por muito tempo, vem uma agonia danada, então me levanto, dou uma volta, faço yoga, brinco com minha gata de estimação. Distraio a cabeça para preenchê-la do que importa. E, claro, vivo com bloquinho e caneta: diante de uma ideia boa, corro anotar”. (Paty Cozer)
Isso acontece bastante enquanto durmo e eu não tenho o menor problema em acordar pra registrar o que se passa no meu cabeção, hahah!
Taí, a resposta objetiva que eu posso te dar: resolvo meus eventuais bloqueios criativos de um jeito bem delícia… dormindo!
10. O que te moveu a escrever o livro “Nem tudo (mas tudo)”?
Paty Cozer: As minhas dores de alma. Na verdade, o livro só precisava ser publicado. Ele foi escrito ao longo de vários anos e quando me dei conta, textos aleatórios que eu guardava numa pastinha do computador já somavam mais de cem.
Selecionei os que mais me tocaram de alguma forma e também boa parte dos que publiquei na minha antiga conta do Instagram. Eu organizei tudo como forma de me distrair dos efeitos colaterais dos antidepressivos. Estava no terceiro mês de tratamento psiquiátrico e a adaptação com o remédio ainda não era completa.
“Passava horas revisando linha por linha. Editei, reescrevi alguns trechos e me diverti durante todo o processo. Para mim, foi uma forma de revisitar cicatrizes sem tanta dor, porque eu já estava anestesiada. Lançar esse livro foi tão importante e tão bonito. O dia 27 de novembro de 2020 ficou marcado como um dos melhores dias da minha vida”. (Paty Cozer)
11. Qual sua relação com o mundo da escrita, “amor ou guerra”?
Paty Cozer: Amor eterno. Guerra, só dentro de mim mesma.
12. Se você tivesse que conversar com um(a) escritor(a) qual seria, por qual razão e o que você gostaria de falar ou perguntar a ele(a)?
Paty Cozer: Às vezes, penso que gostaria de conversar com Clarice Lispector, mas desisto da ideia a cada entrevista dela que assisto… a graça dela é o mistério.
Então, passo para Fernando Sabino. Ele é referência para mim quando o assunto é crônica e momentos constrangedores da vida real. Eu perguntaria sobre algum momento embaraçoso da vida dele, algo que tenha originado uma de suas crônicas. Acho que daríamos boas risadas juntos.
Dicas da Paty
Há pouco tempo, li um livro que me tocou de muitas formas. Eu encontrei nesse livro o que entendo por religião.
Link para o livro no site da Amazon – https://amzn.to/3EdeCEX
Osho é uma figura polêmica e encantadora ao mesmo tempo. Esse livro dividiu minha alma em tantas partes e depois recolheu pedacinho por pedacinho, sabe?
Não consigo explicar o que houve, só posso recomendar, a quem tiver a mente aberta, que leia. Senti que eu duvidava da minha própria espiritualidade e forma de ver a vida… até ler esse bendito livro.
A minha sensação, durante a leitura, era: “Até que enfim alguém está falando sobre Jesus de um jeito que eu compreendo e admiro”. Osho escreveu muito do que eu sinto desde criança, mas nunca consegui colocar em palavras. Crescer no catolicismo me bloqueou de muitas formas. A igreja me fez duvidar de Cristo.
Como diz Osho logo no comecinho do livro: “O cristianismo é anticristo”. O cristianismo da forma que vem sendo praticado pelos homens é insano. É por isso que me apaixonei por esse livro: a visão e interpretação de Osho sobre Jesus Cristo me devolveu paz.
Frase ou palavra que a inspira
“Se o mundo todo fosse cego, quantas pessoas você impressionaria?” (Autor anônimo)
Essa pergunta não sai da minha cabeça já tem alguns anos. Não sei de quem é a autoria: eu a li em inglês, num pôster, passeando pela internet, e nunca mais esqueci.
É surreal pensar o quanto nos preocupamos em mostrar nossas conquistas, nossas roupas, nosso corpo, sendo que a conexão emocional é o laço mais forte.
“Minha imaginação dispara toda vez que paro pra pensar quantas pessoas eu impressionaria, se toda superficialidade e mania de viver de aparência desaparecesse”. (Paty Cozer)
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Espero que você tenha se inspirado com a história da Paty Cozer e aproveite as dicas que ela compartilhou aqui.
Pra aprender com ela e se sentir abraçada por suas palavras, se conecte com seu perfil aqui no LinkedIn e acesse seu site para saber ainda mais sobre seus serviços e como ela pode te ajudar.
E oh, ela tem muito o que oferecer: a Biblioteca das manteigas que é um plano de assinatura especial para todo mundo que quer se profundar mais sobre a alta sensibilidade. Tem o podcast Me deixe em Pas, o blog e a newsletter ou nius mais alto astral e linda nessas bandas do LinkedIn – o seu minhocário mental de boas e bem-humoradas ideias, a MIME. Assine! 😉
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Esse foi o 11º episódio da minha série de entrevistas “Com a Palavra”, originalmente publicada no LinkedIn.
Imagem de capa: imagem do arquivo pessoal de Paty Cozer, editada por mim no Canva.
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Confira as entrevistas da 2a temporada da série “Com a palavra”
#10 Fernanda Pasquale – “Os desafios da comunicação além-mar”
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