“I have a dream” (Eu tenho um sonho) é o início do famoso discurso de Martin Luther King, ativista político americano, que lutava pela igualdade entre negros e brancos. Talvez você não conheça e tudo bem, mas tenho certeza de que ao longo de sua vida, você já se encantou pela fala de alguém próximo a você ou alguém famoso e lá no fundo quis falar igual.
Falar é tão natural para o ser humano quanto se locomover. Mas falar bem e ainda mais em público já é outra história. E o medo de esquecer o que vai falar? E o receio de a plateia o achar o que você está falando desinteressante?
São dúvidas muito comuns e que impedem muitos profissionais de exporem seus conhecimentos, opiniões e ideias. Mas como praticamente tudo nessa vida, para cada problema tem sim solução.
Para quem ainda não sabe, a entrevistada da vez, Juliana Algodoal, é uma profissional que atua como estrategista de comunicação falada e tem ajudado muitos profissionais a desbravar esse mundo da comunicação falada com mais confiança.
Ela vai além de ensinar técnicas de oratória e de linguagem corporal, ela auxilia as pessoas para que conheçam o seu estilo único de se comunicar, ensina sobre o valor da escuta e da empatia na construção de conversas e discursos mais estratégicos, claros e com mais emoção, por que não?!
Nesse artigo-entrevista da Série “Com a palavra” você vai ter a oportunidade de conhecer um pouco da história dessa querida pessoa que conheci aqui no LinkedIn e que tem um trabalho maravilhoso.
Crédito: arquivo pessoal da Juliana Algodoal.
Pelos caminhos da fala e do coração
Juliana é fonoaudióloga de formação e o motivo de se interessar por essa área tem uma razão muito especial. Seu avô materno, Romeu Amatuzzi, teve a laringe removida por conta de um câncer e ela queria muito ajudá-lo a falar após a cirurgia.
Optou assim, por ingressar no curso de fonoaudiologia com a firme ideia de fazê-lo recuperar a sua voz, mas infelizmente não deu tempo – ele faleceu alguns meses antes do vestibular. Isso, porém, não a impediu de seguir, pois, já naquela época amava a profissão e nutria o forte desejo de “fazer a voz das pessoas serem ouvidas”, como ela mesma diz.
Logo que se formou, pela PUC SP, já começou a atuar em sua própria clínica. Curioso é que muitos profissionais dessa área acabam atendendo a jovens e crianças. Mas, o seu primeiro paciente foi um adulto.
Praticamente, um sinal do que viria pela frente e validando o que uma de suas professoras da faculdade já havia lhe dito pouco antes dela de se formar – de que ela seria uma boa profissional para trabalhar com adultos.
A voz que lhe guia
De lá para cá, sua carreira enveredou por esse caminho de atender a adultos e ela abraçou de muito bom grado essa “vocação e missão” pré-anunciada.
Foi, inclusive, a primeira fonoaudióloga brasileira a trabalhar dentro dos “call centers” (centros de atendimento). Ela ajudava os teleoperadores a se comunicarem de forma mais clara possível e a manterem sua voz saudável.
Um trabalho precursor que lhe rendeu um prêmio de reconhecimento pelo Departamento de Voz da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia em 2008.
E aquilo tudo fazia tanto sentido que ela não pensou duas vezes e ingressou no mestrado e na sequência no doutorado, em linguística aplicada e estudos da linguagem.
Embora tenha sido uma época intensa para sua vida pessoal, pois entre um título e outro teve seus dois filhos e um doloroso aborto, Juliana se sente grata por todos os aprendizados que esses momentos de altos e baixos lhe proporcionaram.
Afinal, seu coração esteve ali presente e ela soube atentamente escutar o que a vida lhe pedia em cada situação e observar com serenidade o saldo do que viveu:
“Eu amo a vida, sou intensa. Gosto muito de desafios Dois pontos muito altos na minha vida foram ser mãe e fazer o Caminho de Santiago de Compostela.
Ser mãe me permitiu exercitar a paciência e a escuta, tentar entender as demandas de cada filho. O Caminho me ensinou que cada passo tem que ser vivido no presente e que o que está no caminho de cada pessoa será vivido. Hoje eu procuro me concentrar muito nos momentos positivos para lembrar deles quando estou nos negativos. A vida é assim, um sobe e desce”. (Juliana Algodoal)
“Enquanto houver sol”
“Quando não houver caminho
Mesmo sem amor, sem direção
A sós ninguém está sozinho
É caminhando que se faz o caminho”.
Esse trecho da música “Enquanto houver sol”, cantada pelo grupo Titãs e com letra do compositor Sérgio Britto, poderia ser a trilha sonora desse artigo, pois ilustra bem o espírito da Juliana que está sempre disposta a aprender com os caminhos que a vida lhe oferece.
Incansável em sempre dar o seu melhor, ela nunca mais parou de estudar e observar os aprendizados que surgiram. Está em seu DNA ser uma “lifelong learner” (eterna aprendiz).
Seus estudos são para aprofundar mais seus conhecimentos sobre a fala humana e poder ajudar ainda mais profissionais a se expressarem de forma mais potente e eficiente por meio dela.
Além dos títulos de mestra e doutora, fez diversos cursos como PNL (Programação Neurolinguística), Coach pela Crescimentum University e o “Process Communication Model”, criado pelo Dr. Taibi Kahler, que analisa a comunicação falada de uma pessoa associada a seu tipo de personalidade:
“Atuar com esse modelo me ajuda de duas formas: por um lado conhecendo o perfil de cada cliente posso ajustar minha forma de falar com ele e facilitar sua compreensão. Por outro lado, cada cliente começa a perceber que trabalha com pessoas de outros tipos e que é possível ajustar sua comunicação para ser um líder melhor e mais completo, por exemplo”. (Juliana Algodoal)
Quando conheceu o conceito do “Capitalismo Consciente” e o jogo corporativo FreshBiz criado com base nele, percebeu que isso também poderia ser aplicado em seu trabalho, no sentido de entender melhor a forma como as lideranças usavam a comunicação no seu dia a dia.
Em poucas palavras, o capitalismo consciente é um movimento global que reúne pessoas e empresas com o propósito de gerar valor para todos os envolvidos dentro da cadeia produtiva – dos funcionários aos empresários e acionistas até a comunidade e o meio ambiente. Ou seja, se funda na ideia de somar ao invés de competir e em todas as relações e negociações envolvidas.
E o jogo FreshBiz visa, por meio de atividades lúdicas, promover transformações na forma de pensar e agir de quem o joga, sendo possível utilizá-lo para auxiliar na construção de times mais fortes e capazes de se comunicar de forma mais eficiente.
Essas duas ferramentas encantaram muito Juliana, principalmente pelo fato de permitirem interações mais humanas e verdadeiras, conectando o que há de melhor entre as pessoas e gerando reais transformações, sobretudo no ato de comunicar que, sob essa perspectiva, acaba sendo um fator que agrega.
Foi assim que decidiu mudar a rota e há oito anos começou a trabalhar com a chamada alta liderança dentro das empresas.
Novos rumos para desejos genuínos
Nos últimos quatro anos, também tem se dedicado a liderar o comitê de “Inserção de Refugiados e Migrantes” no Grupo Mulheres do Brasil, fundado por Luiza Helena Trajano. Seu principal foco é ajudar mulheres a se comunicarem de forma a terem sua voz ouvida dentro das organizações.
Hoje, se sente realizada e se considera à frente de seu tempo:
“É muito frequente eu escutar das pessoas: me conta o que você está fazendo, você sempre faz coisas interessantes… ou eu adoro falar com você, sempre fazendo coisas diferentes”. (Juliana Algodoal)
Inclusive, tem um projeto novo vindo aí, mas só para os seus clientes. E ela não pode dar nenhum “spoilerzinho”, pois é surpresa. 😉
Crédito: foto retirada do Instagram da Juliana Algodoal.
Arrisco dizer que essa característica da Juliana de estar à frente do seu tempo tem muita relação com sua disposição interna em escutar atentamente, no sentido físico e figurado o que a vida lhe apresenta, sejam pessoas, fatos ou sentimentos e sabiamente relacionar isso aos seus aprendizados, experiências e desejos para poder explorar com mais consciência seus próprios horizontes e ajudar pessoas a fazerem o mesmo.
O exemplo mais recente disso é a foto acima, tirada em sua última férias ao Egito e que ela compartilhou em seu Instagram com o seguinte texto: “Hoje foi dia de Memphis, Saqqara e Gizé! Nosso guia, Issam, fez um comentário sobre felicidade que me tocou muito. Segundo ele, para a felicidade é preciso ter paciência, sabedoria, satisfação pessoal e ver com o coração”.
Só mesmo quem sabe escutar pode usufruir desses momentos!
Histórias e caminhos que se cruzam
Tive o prazer de conhecer a Juliana e seu trabalho no projeto LinkedIn Stories, criado em 2020.
Adorava ver os seus stories sempre com dicas tão precisas sobre comunicação. Claro que pedi conexão e passei a segui-la de pertinho.
Não foi difícil perceber que tínhamos em comum a paixão pela arte de se comunicar. Ela pela comunicação falada, eu pela comunicação escrita.
No fundo esse mundo das palavras nos encanta tanto quanto essa interação e troca de mão dupla que está na natureza do ato de se comunicar.
Fiquei também feliz ao descobrir, em uma reunião virtual que fizemos, seu amor pela leitura, sobretudo de ficção – ela aprende com cada personagem e eu posso dizer o mesmo. Ela adora, como eu, ir passear nas livrarias.
Crédito: foto do Instagram da Juliana Algodoal.
Inclusive ela faz parte do clube de leitura “Mulheres do livro”, “um grupo de mulheres que ama literatura e acredita que a leitura pode mudar o mundo”.
Ela é apaixonada por caminhar e começou sua jornada de caminhante-peregrina em 2009. Já teve o prazer de trilhar o Caminho de Santiago em 2010 e também já percorreu o “Caminhos de graças e prosas”, em parte do Brasil, no sul de Minas Gerais, pela serra da Mantiqueira.
Eu ainda não me aventurei como caminhante-peregrina, quem sabe um dia, mas esse prazer que tenho em sair para caminhar, seja no meu dia a dia, ou durante as viagens é quase indescritível para todas as pessoas com quem já conversei a respeito, incluindo a Ju: traz paz, facilita organizar pensamentos e, principalmente, descobrir coisas antes despercebidas pelo caminho de fora e de dentro.
Por enquanto, só nos conhecemos virtualmente. Espero em breve, poder tomar um café com bolo e prosear muito com essa pessoa intensa, dona de um sorriso largo, franco, magnético e acolhedor.
Agora, dê “ouvidos” às palavras dela!
Com a palavra, Juliana Algodoal
1. Você criou o método comunicação consciente. O que é esse método? Pode ser aplicado por qualquer pessoa, ou somente por corporações?
Juliana Algodoal: O método foi criado a partir dos meus estudos e das demandas de empresas e profissionais durante a pandemia. Venho utilizando para pessoas físicas e jurídicas e ele é muito adaptável a cada demanda porque eu tenho as estratégias para cada etapa do método e vou definindo em conjunto com as empresas. Serve para pessoas, dentro e fora das empresas.
2. Como o método funciona na prática? Que elementos são fundamentais para aplicá-lo?
Juliana Algodoal: Na prática, faço uma reunião com a pessoa ou com quem é responsável pelo contrato dentro da empresa para identificar as demandas. Após essa etapa, eu traço uma estratégia e apresento para análise. O mais importante é que a pessoa tenha desejo de fazer o processo. Ele é rápido e intenso, mas quando a pessoa está envolvida é super claro! E tem que ter tempo para focar em cada sessão.
Crédito: foto do site “Linguagem Direta”, da Juliana Algodoal.
3. Quais foram suas principais influências e referências para criá-lo?
Juliana Algodoal: Fazer um processo em que as pessoas pudessem aprender e ser protagonistas, além de continuar exercitando, mesmo após o encerramento do meu trabalho.
Tenho certeza de que adultos que são líderes dentro das empresas muitas vezes se sentem solitários, têm demandas que não conseguem ver resolvidas. Então, incluí no método uma parte toda focada nesse processo.
Minhas bases teóricas são do doutorado, análise do discurso em situação de trabalho, “politeness” (teoria de Brown & Levinson não traduzida para o português), ergologia, fonoaudiologia, neurociências, PNL e “coaching”.
4. Pode definir o papel da empatia no processo comunicacional? E como podemos melhorar essa habilidade na comunicação do dia a dia?
“Empatia é a parte que considero mais importante para a comunicação ser eficiente e engajar as pessoas.” (Juliana Algodoal)
Geralmente, as pessoas pensam em se comunicar da forma mais clara possível. Ninguém quer ser mal compreendido, pelo menos no mercado de trabalho.
O que eu sempre sugiro é que meus clientes pensem na pessoa que vai escutar o que é dito. Isso implica sair do seu próprio ponto de vista e realmente ter empatia para entender que quem te escuta é diferente de você.
O resultado dessa posição é adequar até o vocabulário ao seu ouvinte. Se você não tiver empatia não vai perceber que há diferenças.
5. Hoje em dia, a habilidade da comunicação é uma das mais desejadas pelo mercado de trabalho. A que você atribui isso?
Juliana Algodoal: Tenho dito para meus clientes – tanto pessoas físicas quanto jurídicas – que quanto mais a tecnologia facilita a vida dentro e fora das empresas, maior a valorização do ser humano.
Como consequência dessa valorização, os hábitos de escutar de forma interessada e sem julgamento começam a ser mais importantes, além da fala em si, e especialmente no mercado de trabalho. O ser humano veio para o centro e isso não tem mais volta.
Quem não sabe disso precisa correr para conhecer e entender a potência que é aplicar e vivenciar isso na prática, sobretudo quando se pensa no conceito ESG (“Environmental, Social and Governance” – Ambiente, Social e Governança).
E aqui me refiro, em específico, ao G (Governança) , que envolve questões relacionadas à prática da ética e da comunicação transparente, por exemplo, na avaliação de desempenho de resultados, entre outros.
6. O que eu preciso saber e fazer para me tornar uma pessoa que se comunica bem?
“São três estratégias centradas em cada um de nós: autoconhecimento, autoconfiança e autorregulação emocional que está relacionada a identificar e nomear seus próprios sentimentos e o de outras pessoas para poder agir da melhor forma possível.” (Juliana Algodoal)
Quando eu me conheço, consigo saber quando e onde não sou bom comunicador para poder ajustar. Para isso, é necessário ter autoconfiança de forma a perceber que o fato de ajustar a comunicação não diminui em nada cada um de nós.
Por fim, é dar um passo de cada vez e identificar qual o estilo de comunicação que você tem e ajustar ao que você quer ter.
O grande desafio aqui é manter a autenticidade e a verdade. Tentar falar como outra pessoa só vai te afastar do bom comunicador que você pode ser. Então, a principal dica que eu dou para quem quer melhorar sua comunicação e que também cito no meu e-book gratuito é:
“Comunique-se como ser humano, pois existe um ser humano do outro lado da mesa, da tela ou na plateia.” (Juliana Algodoal)
Link para baixar GRATUITAMENTE e usufruir de todas as incríveis dicas da Ju – https://bit.ly/3wfyXWJ
7. Por que todo líder deveria investir em se comunicar bem? Que diferença isso faz para a organização a qual pertence e para os seus colaboradores e colaboradoras?
Juliana Algodoal: Entre meus clientes o que mais escuto é que a comunicação precisa melhorar para que a equipe se engaje nas ações.
“As pessoas precisam entender que boa comunicação é falar e escutar. E mais do que isso, é necessário colocar seu interlocutor no centro.” (Juliana Algodoal)
Cada componente de uma equipe tem um estilo de escuta, de aprendizagem. É papel do gestor adequar sua comunicação para que todos a compreendam. A comunicação é o meio para a realização.
8. Qual sua relação com o mundo da escrita, “amor ou guerra”?
Juliana Algodoal: Amor total, ler e escrever é uma delícia!! Ler é uma paixão, leio mais de 30 livros por ano, em 2021 li 36.
Escrever foi uma superação, eu sempre peço para alguém corrigir. Mas, com o tempo, estou me sentindo mais à vontade e quando preciso, peço para alguém corrigir um capítulo de livro, artigo científico ou algo que seja mais distante do meu dia a dia.
9. Se você tivesse que conversar com um(a) escritor(a) qual seria, por qual razão e o que você gostaria de falar ou perguntar a ele(a)?
Juliana Algodoal: Adoraria conversar com diversos escritores: com Machado de Assis eu falaria sobre as “Memórias Póstumas de Brás Cubas”; já com Érico Veríssimo eu adoraria trocar uma ideia sobre “Incidente em Antares”.
Atualmente, gostaria de sentar para um papo com Brené Brown, Susan Cain, Daniel Kahneman e Simon Sinek. Todos são teóricos que eu utilizo e revisito muito. Tenho diversas coisas que fui escrevendo nesses livros, à medida em que lia cada um deles, e que daria um bom papo!
Dicas da Juliana
Juliana Algodoal: Livros são meus melhores amigos, recomendo três:
Frase ou palavra que a inspira
Desde que fiz o Caminho de Santiago de Compostela eu vivo o momento presente com presença e tenho certeza que:
“O caminho se faz ao caminhar.” (autor desconhecido)
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Espero que você aproveite muito as dicas que a Juliana gentilmente compartilhou aqui, e também, se inspire com a incrível história dela e os caminhos que ela faz questão de percorrer sempre com muita coragem e paixão.
E para aprender mais com ela é só se conectar começando pelo seu perfil aqui no LinkedIn ou no Instagram e, claro, acessar seu site para ficar por dentro de tudo de bom que ela oferece e saber em detalhes como ela pode te ajudar. 😉
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Esse foi o 12º episódio da minha série de entrevistas “Com a Palavra”, originalmente publicada no LinkedIn.
Imagem de capa: imagem do arquivo pessoal de Juliana Algodoal, editada por mim no Canva.
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Confira as entrevistas anteriores da 2ª temporada da série “Com a palavra”
#10 Fernanda Pasquale – “Os desafios da comunicação além-mar”
#11 Paty Cozer – “As dores de ser uma pessoa altamente sensível num mundo acelerado e carente de mais inclusão”
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