Você é da turma que quando o assunto é gramática, torce o nariz ou treme na base? Ou na hora de escrever prefere correr uma maratona de mil quilômetros? Se essas questões lhe parecem familiares, te garanto que você vai ficar feliz ao ler este artigo-entrevista e saber como desfazer o bicho de sete-cabeças que normalmente associa a escrita apenas com a gramática.

Na hora de escrever, a gramática é importante, sim, mas escrever de forma autêntica é muito mais. Quem fala disso com muita propriedade é a querida entrevistada, Dalva Corrêa, deste episódio da série “Com a Palavra”

Ela ensina gramática com muita leveza, bom humor e não deixa de falar do assunto com toda a seriedade que ele merece. Afinal, escrever nesse mundo conectado se tornou muito frequente e cada vez mais necessário para, pelo menos, fortalecer sua marca pessoal.

Mas a Dalva não para por aí, ela também dá dicas valiosas sobre como você pode imprimir sua autenticidade em sua escrita. Aliás, amo a frase de sua autoria “Em terra de conteúdo, quem tem autenticidade tem poder”.

Convido você a se inspirar na história de como ela, professora de português, se tornou uma das vozes mais influentes do LinkedIn e a usufruir de todas as dicas que ela generosamente compartilhou conosco.

Vamos mergulhar nessa história?

Crédito: foto do arquivo pessoal da Dalva Corrêa.

Os mares de Dalva

Dalva, hoje professora de português corporativo e mentora de escrita autêntica, iniciou sua trajetória profissional na área de vendas de uma grande rede de livrarias no Rio de Janeiro, sua cidade natal.

Recorda com muito carinho essa experiência em que a tímida Dalva se viu transformada. Afinal, trabalhar em vendas exigia que ela se comunicasse praticamente o tempo todo com os clientes.

Isso a fez “soltar o verbo” e descobrir o quanto uma comunicação assertiva, aquela que fala o que é necessário, com convicção e de modo respeitoso, pode ajudar a transmitir uma mensagem de modo bem-sucedido.

Ela adorava estar rodeada de livros e mais livros e foi isso o que despertou nela o desejo de estudar Letras na faculdade. Desejo esse que se realizou em 2000, quando ingressou na Universidade Estácio para o curso de português.

Depois de seis anos de uma promissora carreira nessa livraria, resolveu voltar à estaca zero para estagiar em uma editora. Ao final do processo não foi efetivada, então, voltou de novo ao comércio, mas não perdeu de vista seus aprendizados em Letras e, no paralelo, começou a fazer trabalhos como freelancer, o famoso “frila”, para a mesma editora que não a contratou após a conclusão do estágio.

No último ano da graduação prestou concurso público para o magistério do Rio de Janeiro e passou. Lá se foram quatro anos em que exerceu a função de professora concursada e ela amava dar aulas para os jovens do ensino médio, só que também passou a “desamar” toda a máquina pública.

Antes de “enlouquecer”, como ela mesma diz, pediu as contas, contrariando toda a família que achava uma loucura ela abdicar de um estável cargo público, sem ao menos ter algo em vista.

“Loucura” à parte e coragem e determinação à frente, percebeu que nada tinha a perder se expusesse sua vontade, na verdade, sonho, de trabalhar na editora para a qual já prestava serviços de frila.

Eis que sua assertividade se mostrou uma grande aliada e ela conseguiu abrir suas próprias portas e se efetivar na editora, aí trabalhando por cinco intensos anos.

Fazendo um balanço do mundo corporativo em que ficou por mais de dez anos, lembra hoje com gratidão de @Carlos Henrique e @Sandra Ribeiro, exemplos de liderança inesquecíveis para ela.

Ao sair da editora, em 2018, não titubeou em reativar sua conta no LinkedIn. Ali nascia um novo caminho.

Crédito: foto do arquivo pessoal de Dalva Corrêa.

Mergulho no mar de dentro

Em 2019, Dalva não desistiu da coragem de desbravar novos horizontes. O LinkedIn foi a rede escolhida para acolher os seus conteúdos que ela passou a produzir e postar com mais frequência.

Tendo como sua principal referência Evanildo Bechara, o maior gramático brasileiro vivo, decidiu falar na rede não apenas sobre o medo de escrever, mas também sobre nossa língua portuguesa de um jeito leve, divertido e super didático.

Para sua feliz surpresa, a receptividade foi ótima e seu perfil cresceu tanto que, nessa mesma época, decidiu profissionalizar sua marca, a “Batida Perfeita” que, como ela mesma explica, é o “ ‘tum-tum’ que vibra de modo especial e diferenciado no coração por meio da escrita” – uma grande realização para ela que tem hoje como principal missão:

“Potencializar pessoas por meio da escrita nascente de mergulhos no mar de dentro.” (Dalva Corrêa)

Porém, veio 2020 com a separação, um filho pequeno para criar, aluguel e todas as contas para pagar e um breque em muitos dos seus jobs (trabalhos) que ainda fazia como frila. Foi um ano de muitas tormentas que ela enfrentou com as maiores armas que tinha – seu conhecimento e o autoconhecimento:

“Com a chegada da pandemia em 2020, eu me tornei a profissional mais cara de pau (no bom sentido) que eu conheço. Diante dos acontecimentos, fiquei sem qualquer renda. Não tinha reserva de emergência.

A única saída era oferecer meu conhecimento em formato de serviços no LinkedIn. Criei a mentoria de escrita para profissionais que precisam escrever melhor no trabalho; deu certo. Dois meses depois, criei um curso on-line e ao vivo de português para o trabalho; deu supercerto”.

Assim, o ano de mares revoltos só fizeram por despertar seu potencial. Ela “mergulhou no mar de dentro” (expressão dalviniana) e as recompensas foram muitas:

  • Em 2020, foi reconhecida como umas das 25 vozes mais influentes do LinkedIn e recebeu o título de Top Voices;
  • No mesmo ano, também entrou na lista de 100 profissionais influentes no LinkedIn, escolhidos pela Feedz, plataforma de empoderamento de RHs e gestores;
  • Em 2021, recebeu o convite para ser “LinkedIn Creator”. E esteve na lista das 20+ Prêmio ibest, categoria “Influenciador LinkedIn”;
  • Em 2022, tornou-se “Creator Oficial” Peixe 30, uma nova rede social profissional totalmente brasileira.

Hoje, se intitula professora de português corporativo e mentora de escrita e explica feliz:

“Todos os títulos potencializam a minha reputação no mercado e são frutos da minha produção de conteúdo no LinkedIn.” (Dalva Corrêa)

Lições da travessia

Dalva sempre esteve atenta aos aprendizados que a vida lhe proporcionou e ainda proporciona. Nesse sentido, sua mãe dona Maria Elena, que criou sozinha três adolescentes, é para ela um exemplo de força e fonte de muita inspiração.

Ter se tornado mãe do Benjamin, “pequeno grande guerreiro, que veio ao mundo com parcos 730 g e 30 cm” é outra paixão que a alimenta e a faz querer lutar por tudo o que acredita e deseja:

“A maternidade suscitou em mim uma resiliência que eu nunca havia experimentado.

A “adulteza” me pegou de jeito: ou eu fazia acontecer ou… eu fazia acontecer.

Separada, com um filho de um ano, pagando aluguel e todas as contas… A cada dia, uma superação.” (Dalva Corrêa)

Enfim, são aprendizados muito preciosos que ela guarda em seu coração.

Crédito: fotos retiradas do Instagram de Dalva Corrêa.

Somos Clarice

Antes de atuar como professora de português corporativo e mentora de escrita autêntica, Dalva é antes de tudo, um ser humano incrível que eu tive o privilégio de conhecer pessoalmente e graças à nossa conexão aqui no LinkedIn.

Por termos a paixão pela língua portuguesa em comum, acredito ter sido natural o algoritmo me indicar o perfil da Dalva para seguir por aqui.

De cara achei incrível como ela conseguia e ainda consegue tornar a gramática um assunto leve, ensinando de forma clara e didática, sem contar os textos sobre escrita que são pura inspiração.

Interação vai, interação vem nas publicações uma da outra, eis que um dia sou surpreendida com um recado de que ela viria a São Paulo e se eu não toparia encontrá-la. Não pensei duas vezes, né?

Nos encontramos, eu, ela e a querida Gilka Ferreira غيلكا , no final de novembro de 2021. O roteiro não poderia ser melhor – planejamos de ir primeiro visitar o Museu da Língua Portuguesa e depois de um bom almoço na Av. Paulista fechamos a tarde no Instituto Moreira Salles, visitando a exposição da maravilhosa Clarice Lispector.

Crédito: foto por Gilka Ferreira

Foi um dia intenso de muito bate-papo bom, descobertas de muitas convergências de alma, bem como das coisas comuns da vida: adoramos nos sentar à mesa para saborear uma boa comida ao lado de pessoas queridas; ah, e tem ainda a Clarice Lispector, uma de nossas musas e admiramos Leandro Karnal por sua profunda lucidez, entre outras.

Fiquei numa alegria só quando, dias depois, Dalva postou nosso encontro em suas redes e se referiu a mim como sua “alma gêmea”. De lá para cá, não perdemos contato e a cada dia descubro que temos muito mais comum do que sonha a nossa vã filosofia.

Não à toa seu nome é Dalva, que, na verdade, não é uma estrela, mas o planeta Vênus, que simboliza o amor e brilha intensamente no horizonte ao amanhecer.❇️

Com a palavra, Dalva Corrêa

1. Como e por que nasceu a Batida Perfeita? E o que você considera como sendo a “Batida Perfeita” em sua vida?

Dalva Corrêa: A Batida Perfeita nasceu do incômodo de não querer voltar para o regime celetista.

O nome se firmou durante o processo de coaching pelo qual passei com a Kerlly Barbosa no início de 2019; ao final, eu tive a certeza de que seria a minha marca. Toquei o barco sem olhar para trás.

A Batida Perfeita em minha vida é ver as pessoas, que passam por mim, escrevendo com autenticidade e liberdade.

2. Na sua opinião, por qual razão tantas pessoas associam escrever somente com dominar as regras da gramática? De onde vem essa ideia?

Dalva Corrêa: Essa ideia vem do modelo tradicional de ensino nas escolas. A forma como a matéria Português é cobrada em trabalhos, provas e concursos.

Além disso, não levam em consideração as variantes linguísticas e seus contextos sociais.

“Toda linguagem tem espaço para fluir, comunicar e gerar pertencimento.” (Dalva Corrêa)

3. O que é preciso para escrever bem, seja nas redes ou no mundo corporativo? Pode dar algumas dicas?

Dalva Corrêa: Nas redes: é um exercício de autoconhecimento, pois não há conteúdo sem o mínimo de exposição. Quem se conhece traz vulnerabilidades e posicionamento sem morrer de medo do julgamento alheio.

“Ter uma escrita simples é fundamental para se conectar às pessoas. Imagine o leitor à sua frente, sorria para ele e escreva em tom de conversa.” (Dalva Corrêa)

Escolha um tema só por post e desenrole-o com exemplos e, de vez em quando, “vire a lente” para o leitor fazendo-lhe perguntas (diretas ou indiretas).

No mundo corporativo: gostando ou não, achando justo ou não, o mercado exige textos com correção gramatical. Ter conhecimento básico das principais regras contribuirá para a imagem do profissional que precisa redigir documentos e e-mails no trabalho.

Escrever frases curtas e na ordem direta (sujeito – verbo – complementos) deixa o texto mais claro e objetivo.

Fazer uma relação com as palavras-chave do texto antes de começá-lo é um ótimo recurso para evitar prolixidade.

E, claro, revisar. Sempre.

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4. Para você o que é escrita autêntica e como isso influencia na hora de escrever um texto?

“É a escrita que te revela, mostra quem você é. Coragem e algum incômodo (ou a força do ódio) são combustíveis para a escrita autêntica.” (Dalva Corrêa)

É uma mistura entre escrever o que se espera de você e o que as pessoas precisam saber/ler (nem sempre isso vai agradar).

5. É possível conciliar escrita criativa com a escrita corporativa? De que forma?

Dalva Corrêa: Com certeza, Verinha!

Com base na linguagem, no branding e no público-alvo da empresa, as duas coisas casam muito bem e tornam singular a comunicação da empresa.

A Batida Perfeita nasceu para incentivar as pessoas a escreverem pelo coração e revisitarem o que têm de mais valioso – a sua própria verdade

6. Você começou a publicar histórias de ficção em suas redes. Pode falar sobre essa experiência de escrita e o que a motivou a publicá-las?

Dalva Corrêa:  Ah, a Helena…

Comecei a escrever de forma totalmente despretensiosa. Criei uma personagem para representar a mulher contemporânea com desejo máximo de liberdade.

Loucura publicar no LinkedIn, né? Teve boa repercussão.

A procrastinação foi mais forte, e acabei parando de escrever. Helena retornará em algum momento; ela quer isso, e eu também.

7. Muitas pessoas têm receio de produzir conteúdo nas redes sociais, especialmente no LinkedIn. Tem como superar isso? Que conselho você daria?

Dalva Corrêa: Nosso maior juiz somos nós mesmos. O ego grita; acha que todas as atenções estão voltadas para ele. A realidade não é assim.

“Terapia na veia, gente! Muito autoconhecimento e ter clareza sobre objetivos são imprescindíveis para escrever, apertar o botão “publicar” e não surtar depois.” (Dalva Corrêa)

Escreva sobre o que acredita: seus valores, sua história, seu conhecimento. Eles vão ajudar alguém.

8. Pode explicar o que é “escrita autêntica” para você e o que ela pode proporcionar para quem a pratica?

Somente a autenticidade permeando a escrita vai torná-la única, pois igual a você só você. Além disso, é o tipo de escrita que se sustentará no longo prazo. Ninguém vai tirar sua marca registrada.

9. Hoje, você empreende com seu conteúdo. Quais foram e ainda são os principais desafios de empreender?

Dalva Corrêa: Lidar com a montanha-russa das vendas. Ter ou não ter equipe. Qual é o momento de mudar de fase. Cuidar da parte burocrática da empresa. Fazer parcerias de sucesso. Vencer o ranço de gravar vídeos (rsrsrs).

Apesar dos desafios, não sinto vontade de ser funcionária de empresa novamente.

10. Como foi sua jornada dentro do LinkedIn até se tornar LinkedIn Top Voices e LinkedIn Creator? Quais os principais desafios e aprendizados até o momento?

 Dalva Corrêa: Eu comecei escrevendo sobre o medo de escrever. Após alguns meses, tive um clique e comecei a postar dicas de português com uma linguagem bem simples e fácil de entender. E assim meu perfil bombou!

Nessa jornada, lancei e-book, mentoria, cursos, workshop de LinkedIn, e atualmente meu carro-chefe é o treinamento de comunicação escrita para empresas.

Os títulos chegaram nesse ínterim.

O maior desafio é manter a constância na produção de conteúdo.

Já o maior aprendizado é fazer o meu “corre”; ninguém o fará por mim.

11. Qual sua relação com o mundo da escrita, “amor ou guerra”?

Dalva Corrêa: Os dois!

Há épocas só de guerra, e outras, de amor purinho. Eu não me martirizo. Aprendi a respeitar minhas fases.

12. Se você tivesse que conversar com um(a) escritor(a) qual seria, por qual razão e o que você gostaria de falar ou perguntar a ele(a)?

Dalva Corrêa: Clarice Lispector. Razão: a mágica da metalinguagem.

Pergunta: a fala de Macabéa em “A Hora da Estrela” para seu pseudonamorado após um breve silêncio na conversa:

– “Eu gosto de parafuso. E o senhor?”

Clarice, como foi o processo de criação de usar a linguagem para representar a inexistência dela na Macabéa?

Dicas da Dalva

Dalva Corrêa: Livros: “Os Quatro Compromissos” de Don Miguel Ruiz; e a “As 5 Linguagens do Amor” de Gary Chapman.

Esses livros deixam a vida e a nossa comunicação mais leve.

Frase ou palavra que a inspira 

Dalva Corrêa:

“O meu valor está em mim” (frase da psicóloga Amanda Fitas).

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Usufrua muito de todas as dicas maravilhosas da Dalva Corrêa e se inspire com a história de coragem e resiliência que ela compartilhou aqui.

Para saber mais sobre os servilos que ela oferece, tanto pessoas físicas ou jurídicas, além de aprender mais com ela é só se conectar com ela no LinkedIn,  Instagram, Tik Tok ou Peixe 30 claro, acessar o site da Batida Perfeita! 😉

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Esse foi o 13º episódio da minha série de entrevistas “Com a Palavra”, originalmente publicada no LinkedIn.

Crédito das fotos: todas as fotos são do arquivo pessoal de Dalva Corrêa.

Imagem de capa: imagem do arquivo pessoal de Dalva Corrêa, editada por mim no Canva.

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Confira as entrevistas anteriores da 2ª temporada da série “Com a palavra”

#10 Fernanda Pasquale – “Os desafios da comunicação além-mar”

#11 Paty Cozer – “As dores de ser uma pessoa altamente sensível num mundo acelerado e carente de mais inclusão”

#12 Juliana Algodoal – “Conheça por que se comunicar bem se tornou uma das habilidades mais valorizadas nessa era tecnológica”

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Vera Natale

Author Vera Natale

Sou consultora e especialista em Escrita e Comunicação Descomplicada. Ajudo empresas e pessoas a traduzir ideias e projetos em palavras fáceis de entender e comunicar no seu dia a dia, por meio de técnicas criativas.

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