Aposto que em algum momento da sua vida, você já consultou um dicionário. Mas você vê valor ou utilidade em fazer isso?

Hoje em dia, nem é mais preciso ter o volume físico, já que muitos podem ser acessados on-line e até mesmo via aplicativos. Mas, sou da época que a professora recomendava ter um dicionário impresso sempre à mão, já que a Internet como vemos hoje, ainda nem existia.

Assim que me alfabetizei, pedi para o meu pai me comparar um. Ele me deu esse minidicionário que é quase um 50+ 😄. E eu achava incrível folhear as páginas e ir descobrindo palavras e palavras e seus vários significados.

Foto: arquivo pessoal.

Como acabei estudando Letras, foi natural estar sempre rodeada de dicionários e criei uma relação quase “amorosa” por essas obras chamadas curiosamente de “Pai dos Burros”.

O que é um dicionário?

Trata-se da compilação das palavras de uma língua, ordenadas de forma alfabética, e apresentando seus respectivos significados e contextos onde são usados. Além da definição, podem fornecer informações sobre a origem dos termos (ou etimologia), pronúncia, ortografia, classe gramatical, sinônimos e antônimos, etc.

Por que são chamados de “Pai dos burros” ? 

Em outras palavras, essa expressão designa que essas obras, que concentram muitas informações e saberes, esclarecem e orientam quem desconhece ou conhece pouco sobre esse universo das palavras. São uma espécie de tutor por esse caminho de descobrir mais sobre isso.

O que se encontra ao fazer pesquisas é que a expressão nasceu porque o pai do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda (autor do famoso dicionário Aurélio) fabricava carroças puxadas por burros. Daí a ligação.

Mas, a origem da expressão é incerta, ou seja, não se sabe se essa explicação é verdadeira ou não.

O que se sabe com certeza é de que Aurélio virou sinônimo de dicionário e que dicionário é chamado de “pai dos burros”! 😊

Dicionários para os mais variados gostos

Há diferentes dicionários, on-line e/ou impressos, e para diversas finalidades. Seguem alguns dos principais tipos:

Se você der uma busca no Instagram, vai achar os mais diferentes perfis de dicionários, inclusive uns bem curiosos: dicionário alagoano, popular, mineiro, católico, etc.

E os glossários, também são dicionários?

Não deixam de ser uma espécie de dicionário. Em geral, são uma lista alfabética de termos de uma área do conhecimento com sua respectiva definição.

Há também glossários bilíngues – lista de termos em uma língua com palavras sinônimas ou equivalente em outra língua.

São muito úteis para quem trabalha com tradução de um idioma para outro e também para fins didáticos, apresentando de forma resumida o que determinados conceitos significam.

Qual a utilidade dos dicionários?

Esses livros nem sempre valorizados são, no fundo, uma espécie de repositório ou arquivo da cultura de um povo que se reflete no idioma por ele falado.

Segundo Maria Teresa Biderman, no prefácio de seu Dicionário Contemporâneo de Português (1992) o registro das palavras em um dicionário mostra a relação entre  língua, sociedade e produção cultural:

“(…) As palavras arroladas no dicionário dão testemunho de uma cultura; no caso da língua portuguesa, o nosso vocabulário registra não só os símbolos da nossa cultura brasileira; mas também de muitas outras culturas de que somos herdeiros: a lusitana, a greco-latina, as culturas indígenas, as culturas africanas (…) e tantas outras mais que recebemos pelos mais variados caminhos”.

O desafio é manter essas obras atualizadas, pois a língua é um organismo vivo, em constante evolução.

Sério que a língua evolui? 🤔

Sim! Há palavras e gírias sendo criadas a todo tempo, novos significados atribuídos a termos já existentes, palavras emprestadas de outros idiomas que passam a ser faladas com muita frequência, sem contar expressões e palavras que vão se tornando “velhas”.

Alguns desses exemplos:

  • “Fulano é X9” – expressão mais antiga que designa que alguém é dedo duro;
  • “Infodemia” – novo vocábulo criado para expressar o volume excessivo de informações, muitas vezes falsas, que se propagam com rapidez;
  • “Biscoiteiro” – termo muito usado nas redes sociais. Não é a pessoa que vende biscoito, mas aquela que quer ganhar elogios a qualquer custo;
  • “Lockdown” – palavra emprestada do inglês que significa “bloqueio total ou confinamento”,  imposto por autoridades para evitar deslocamento das pessoas, devido a uma situação emergencial. Ultimamente, essa palavra tem sido muito usada devido à pandemia do Coronavírus.

Então, como atualizar essas obras monumentais, já que a língua é viva?

Graças à facilidade do digital, essa atualização é bem mais fácil do que antigamente.

No filme “O gênio e o louco” (2019), disponível na Netflix, o professor e filólogo escocês James A.H. Murray, interpretado por Mel Gibson, inicia, em 1857,  a missão de elaborar o “Oxford English Dictionary” (OED) que levou setenta anos! Assista!

Sua ambição era documentar toda a língua, incluindo definições das palavras, suas origens, os diferentes significados dependendo do contexto e usos na literatura.

Segundo Bianca Bosso, colaboradora regular da revista “ComCiência” e do Jornal da Unicamp, que escreveu uma matéria a respeito:

“O filme ilustra não só a complexidade da produção de uma das obras mais importantes da língua inglesa, mas também o quão profundas podem ser as relações interpessoais que permeiam o trabalho de escrita, nos fazendo refletir e chegar à conclusão de que por trás de cada história contada há dezenas de outras vividas.”

Acho incrível imaginar a motivação desses profissionais que se dedicaram a elaborar dicionários em séculos onde sequer sonhavam com a existência da Internet e todas as facilidades tecnológicas decorrentes.

A frase do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda para explicar o seu trabalho revela essa sensível paixão e determinação por buscar detalhes preciosos que são as palavras e seus significados que podem mudar com o tempo e em diferentes contextos.

Aurélio se dizia “Um caçador de borboletas a correr com uma rede em busca das palavras que voavam”.

Hoje em dia, os recursos digitais são grandes facilitadores, mas ainda assim o trabalho de compilar palavras de uma língua e sua cultura não é menos rigoroso ou trabalhoso.

Um exemplo recente é o da Academia Brasileira de Letras que, em outubro de 2020, lançou em seu portal uma área para compartilhar novas palavras da Língua Portuguesa.

O objetivo é mostrar que “um idioma a serviço de uma comunidade está sempre em mudança, de modo que nunca tem esgotada a infinita possibilidade de renovar-se e ampliar-se, se seus falantes e sua cultura se renovam e se enriquecem”.

Essas novas palavras são pesquisadas semanalmente por especialistas da Academia. E vão fazer parte da sexta edição do “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”  (VOLP), prevista para o 2º semestre de 2021.

O VOLP é um catálogo de palavras que apresenta a ortografia delas e muito mais. É muito útil para o momento da revisão dos seus textos. 😉

Você pode acessar o VOLP  baixando o respectivo app (IOS e Android) ou pelo desktop.

Como os dicionários podem te ajudar no seu dia a dia?

Gosto de dizer que os dicionários são como amigos “low profile”, que ficam mais nos bastidores e não gostam de aparecer,  mas que estão sempre lá para te apoiar.

Três situações bem fáceis de perceber o seu valor:

  • Quando você está aprendendo um idioma;
  • Para quem trabalha com traduções;
  • Na hora de escrever, seja ficção ou não ficção.

Eles são ótimos aliados para trazer mais assertividade, clareza e precisão aos seus textos, pois abrem a possibilidade de você escolher a palavra mais apropriada para expressar o que você precisa ou deseja.

Seguem alguns benefícios que você pode usufruir, ao fazer mais consultas aos dicionários:

  1. Consulta da origem das palavras, ou a etimologia. Isso é um ótimo ponto de partida para entender sentidos muitas vezes ocultos que ajudam a entender o atual significado do termo;
  2. Busca de sinônimos e antônimos, que são excelentes recursos para tornar seu texto mais atraente para o leitor, já que a repetição de termos podem empobrecer o texto.
  3. Verificação da classe gramatical de uma palavra e os vários significados que ela pode ter, dependendo do contexto;
  4. Ampliação do seu vocabulário que é uma forma de aumentar sua compreensão a cerca do que você lê ou ouve;
  5. No caso de dicionários especializados, eles ajudam muito quem está aprendendo sobre determinado tema a entender e fixar melhor os conceitos daquela área de conhecimento em questão.

Enfim, um dicionário não serve só para ver o significado das palavras ou ficar esquecido.  A frase de Victor Hugo (1802-1885), escritor francês, é muito oportuna:

“De todas as companhias para um escritor, nenhuma é mais valiosa que um dicionário.” (Fonte: Dicionário Criativo)

Você tem o hábito de usar dicionários?

 

Crédito: Giphy

 

 

Imagem de capa: Giacinto Bianco no Getty Images/Canva.

Vera Natale

Author Vera Natale

Sou consultora e especialista em Escrita e Comunicação Descomplicada. Ajudo empresas e pessoas a traduzir ideias e projetos em palavras fáceis de entender e comunicar no seu dia a dia, por meio de técnicas criativas.

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