Uma das coisas que mais impede as pessoas de publicarem seus conteúdos nas redes é o medo de se expor. Isso porque escrever é vitrine e espelho como costumo dizer.
Vitrine porque te revela para o mundo e espelho, pois reflete seu jeito de pensar, seus valores, crenças e isso pode expor também suas vulnerabilidades.
Eu sempre trabalhei com assuntos de escrita e comunicação, mas já fui rejeitada a uma vaga que queria muito e havia me candidatado, na área de comunicação digital. E isso não é privilégio só meu. Quem nunca, não é mesmo?
Mas a resposta que ouvi por telefone, de uma voz de tom “neutro”, que não deixava transparecer nenhuma emoção, era de que eles preferiam trabalhar com alguém mais jovem, que estivesse mais familiarizado com as redes sociais.
Esse episódio me marcou. Foi duro ouvir aquilo, eu sendo uma pessoa que trabalho com comunicação e escrita desde sempre.
Me senti incapaz – será que minha escrita ou habilidades de me comunicar não eram boas o suficiente? Me senti rejeitada e por um bom tempo pensei que o mundo digital não era para mim.
O fato é que essa rejeição e tantas outras referentes a outros assuntos me deixaram marcas e sentimentos desconfortáveis, mas não me tiraram o ânimo de querer enfrentar novos desafios e um deles foi o de me expor nas redes, por meio dos meus conteúdos.
E vou compartilhar o que aprendi com você!
A natureza humana
No fundo, esse medo de se expor tem muito a ver com o medo de não ser aceito. A boa notícia é que nem você, tampouco eu, ou a humanidade inteira está sozinha nessa.
O ser humano tem necessidades que precisam ser satisfeitas e uma delas é ser acolhido pela comunidade, ou grupo do qual faz parte.
O psicólogo norte-americano, Abraham Maslow (1908-1970), ilustrou muito bem nisso, na famosa Pirâmide das Necessidades, mais conhecida como a Pirâmide de Maslow.
Crédito: www.rafaelrez.com
Sua teoria diz que as pessoas são movidas para satisfazer essas necessidades indo das mais básicas, fisiológicas na base da pirâmide, até as mais complexas, que envolvem necessidades sociais e psicológicas e estão no topo.
Essas necessidades se relacionam entre si e dependem uma das outras. Ou seja, eu preciso ter as necessidades de um patamar atendidas para sentir a necessidade que está num patamar acima: dificilmente alguém que está passando fome ou não tem onde morar vai sentir a necessidade de fazer parte de um grupo. 😉
E você deve estar se perguntando o que o medo de se sentir rejeitado tem a ver com o medo de se expor? Para mim, tudo.
Pertencimento e coragem
O senso de pertencer a uma tribo ou grupo de pessoas faz parte da natureza humana. Isso vem lá dos tempos das cavernas, onde havia uma enorme necessidade de sobrevivência dos seres humanos em meio a ambientes hostis. Então, estar em grupo aumentava as chances de proteção e preservação da espécie.
Segundo o Museu Smithsonian de História Natural, “compartilhar comida, cuidar de crianças e construir redes sociais ajudou nossos ancestrais a enfrentar os desafios diários de seu ambiente.”
E estar junto de um grupo que o acolha continua até hoje trazendo essa sensação de segurança e conforto. O que acaba por fortalecer a sua autoconfiança, e favorece a coragem de se expor.
O curioso é que coincidência do acaso, ou não, fui apresentada à “Terapia da rejeição” que ainda não tinha ouvido falar e fez todo sentido! 😊
A dica veio do Alex Bretas, escritor, palestrante TED e facilitador de comunidades de aprendizagem autodirigida, em seus “10 dias de hábitos de aprendizagem” da qual tive o prazer de participar.
Na minha interpretação, pensar sobre o medo da rejeição é o fio da meada para essa construção ou ressignificação da coragem de se expor que vivenciei de maneira intuitiva.
Crédito: Giphy
A terapia da rejeição
Jia Jiang é um empresário, e palestrante do TED, que fala sobre como triunfar sobre os seus medos, tomando como ponto de partida as experiências de rejeição que, segundo ele, são universais e fazem parte da jornada humana.
De onde ele tirou essa ideia? Do jogo “Rejection Therapy” criado pelo canadense Jason Comely, da área de TI.
Jason foi abandonado por sua esposa e para tentar superar essa dor ele desconstruiu a “regra de evitar a rejeição”. Ele se propôs o desafio de ser rejeitado por alguém por 30 dias consecutivos. Ser rejeitado era o seu objetivo.
Isso se transformou em um jogo de 30 cartões, cada um deles com desafios, como “Antes de comprar algo, peça um desconto”; “Convide um estranho para um passeio, mesmo se você não precise de um” e outros como essas das imagens abaixo, capturadas no site da NPR (National Public Radio) de Washington/EUA:
Carta à esquerda: “Peça uma taxa menor de juros para alguma operadora de cartão de crédito”;
carta à direita: “Sente-se ao lado de um estranho e puxe conversa”.
Ao mudar as regras, ele desconstruiu a percepção de que a rejeição significava algo negativo.
Para ele, a rejeição se tornou um impulsionador da coragem de ir além dos seus limites. Virou sinônimo de sair da zona de conforto que no caso dele, era ficar apenas sentindo a sua própria dor e não virar o jogo ou partir para a ação.
Segundo matéria da NPR, sem se dar conta, ele usou a técnica de psicologia comportamental chamada “terapia da exposição” que consiste basicamente em você ser exposto a algo que você teme e reconhecer que aquilo não é tão ruim assim.
Por exemplo, se a pessoa tem medo de falar em público, pedem a ela para fazer isso, inicialmente para um pequeno grupo. E a cada vez que ela se expõe, se torna menos “sensível” à rejeição. É a chamada “dessensibilização”.
Fazendo uma analogia, você pode criar calos em suas mãos e isso tira sua sensibilidade às superfícies mais ásperas. Ou seja, mãos calejadas vão sentir menos a sensação de aspereza que uma parede de concreto normalmente tem e, até certo ponto, impedir que você se machuque na mesma intensidade caso não tivesse calos nas mãos ou a proteção de uma luva, por exemplo.
Virada de jogo
Jia Jiang, que tinha lá suas próprias rejeições, tomou conhecimento desse jogo-terapia de Jason e adorou a ideia. Tanto que decidiu filmar suas situações de rejeição criando o seu próprio desafio, batizado de “100 dias de rejeição”.
Os vídeos viralizaram, ele se tornou famoso e tudo isso trouxe a ele muitas oportunidades de aprendizado.
Uma das coisas que ele descobriu era de que não precisava mais fugir das situações de rejeição, ele podia enfrentá-las e trazer um novo significado para a situação vivida, com menos dor e mais leveza.
Ele acabou por adquirir o direito de propriedade do jogo de Jason e conta nesse vídeo todo a sua história e paixão por essa terapia que se tornou seu projeto de vida.
Tudo bem, você deve estar pensando:
” – Ah! Mas uma coisa é você provocar uma rejeição e já esperar ser rejeitado e outra é você ser rejeitado sem esperar, como a que relatei no início desse artigo”.
Para mim, independemente do sentimento de rejeição, passado ou que ainda nem tenha acontecido, ousar fazer algo, mesmo sabendo dos riscos, acaba contribuindo para a coragem de se expor.
Tem relação com mudar seu olhar e atitude, abrindo mente e coração para viver experiências nunca imaginadas.
Em seu site, Jia Jiang declara lindamente:
“Saber como transformar a escuridão da rejeição em luz de inspiração pode nos ajudar a realizar mais sonhos, realizar nossas ideias acalentadas e escrever mais histórias de amor – começando com a nossa”.
Então:
- Ouse expor seus conhecimentos e experiências, que são únicos.
Eu estudei muito e ainda continuo a estudar sobre tudo o que me interessa. Também procurei ajuda e apoio de profissionais que admiro e pessoas queridas. Isso me ancorou emocionalmente.
- Se mantenha firme na sua vontade e intenções, que servem de bússola para sua jornada.
Eu fui atrás de descobrir meu norte – minhas paixões, minha essência e abracei minhas causas. Isso fortaleceu minha coragem.
- Comece a escrever seus conteúdos, e mesmo com medo de não ser aceito, decida apertar o botão “publicar”. Escrever tem a ver com se expor e escrever bem está muito relacionado à prática.
Eu fiz essa escolha e você também pode fazer e a qualquer momento.
Enfim, se nada disso que falei faz sentido para você, apenas pegue mais leve e dê menos “bola” para o seu medo de ser rejeitado ou julgado e siga.
Como já dizia o poeta Mário Quintana (1906-1994), “Eles passarão, eu passarinho”.
Vamos nos permitir voar?
Crédito: Tenor
Crédito da imagem de capa: Foto de Anna Koldunova em Getty Images no Canva.