Reportagem publicada no site da revista “O Mundo da Usinagem” (OMU) em agosto de 2015. | Foto: Acervo da WorldSkills.

As boas vibrações e a energia da WorldSkills Competition São Paulo 2015 – maior torneio mundial de profissões

Entrou para a história a 43ª ed. da WorldSkills Competition, organizada pelo SENAI e WorldSkills International e realizada entre 12 e 15 de agosto no Parque Anhembi, São Paulo, capital financeira do país. Pela primeira vez na América Latina, em um espaço de 213 mil m2, 1.189 competidores de 59 países disputaram medalhas, em 50 profissões técnicas diferentes e contaram com o apoio de 1.144 experts para suporte técnico quando necessário. Mais de 70 patrocinadores e parceiros apoiaram o evento.

Oito países participaram com mais de 40 competidores, entre eles o Brasil, com a maior delegação do evento jamais vista desde o início de nossa participação na Competição em 1983 — 56 jovens talentos que nos trouxeram o maior número de medalhas e ocuparam o primeiro lugar no pódio: total de 27 (11 ouro, 10 prata e 6 bronze), além de 19 medalhas de excelência.

Oitocentos voluntários estiveram disponíveis para guiar o público pelo evento que esbanjou interatividade, criatividade e energia, atraiu o interesse de mais de 250.000 visitantes e o principal – mobilizou discussões e reflexões por parte de todos que participaram, direta ou indiretamente, sobre a importância da educação profissional para a sustentabilidade da economia global e a formação de cidadãos.

O saldo positivo vai além de medalhas ou certificados conquistados, ou qualquer número que acabamos de mencionar. Para Rafael Lucchesi, diretor geral do SENAI, o papel da educação profissional para a indústria é incontestável: “Nos países desenvolvidos, cresceu o interesse pela educação profissional; já nos países emergentes, o ensino técnico é considerado um sucesso. A educação profissional é decisiva e vista como um elemento chave para aumentar a produtividade nesses países”, declarou.

Simon Bartley, CEO da WorldSkills, explica que o evento, em especial essa edição, foi uma oportunidade para que os países envolvidos captassem informações, mensagens e imagens permitindo encorajar jovens a abraçarem as carreiras técnicas.

É também uma chance para que os sistemas educacionais possam melhorar a qualidade de ensino técnico de modo a atender às necessidades e expectativas do mundo globalizado. “Esta edição deu um grande passo no sentido de se tornar um movimento realmente global. A globalização é fato”, resume.

Abrir esse diálogo, em meio ao mercado retraído em que estamos atuando, é mais do que uma injeção de ânimo, é fundamental para se pensar em novas formas de fazer negócios, se relacionar com as futuras gerações e atender a premente demanda por inovação. Vejamos a opinião de alguns patrocinadores, instrutores, e competidores medalhistas sobre o significado do evento e o papel de cada um nesse contexto socioeconômico.

Patrocinadores da indústria

Luiz Cassiano Rossolen, diretor-presidente das Indústrias ROMI, patrocinador master do evento pontua bem a importância do evento e o papel da indústria:

“Participar da WorldSkills São Paulo 2015 foi muito gratificante para nós, que há mais de 50 anos estamos comprometidos no estímulo ao desenvolvimento de jovens profissionais e na mão de obra qualificada para o país. Com o apoio ao ensino, estamos capacitando o profissional, colaborando com o futuro das empresas. Reconhecemos que a educação é um fator fundamental para o progresso de qualquer nação. (…) Certamente, eventos como a WorldSkills e as Olímpiadas do

Conhecimento estimulam o interesse para ocupações e atividades que muitas vezes as pessoas nem conheciam ou não tinham contato, despertando nelas o desejo de desenvolver uma nova habilidade ou aprimorar as habilidades profissionais existentes”.

Ricardo González, gerente de marketing e treinamento da Mitutoyo ressalta:“Patrocinar um evento dessa magnitude é de importância capital. Em momento de crise, justamente o que precisamos é prestigiar e favorecer ao máximo tudo o que é formação de mão de obra técnica. O SENAI é uma entidade que vem contribuindo enormemente na formação de mão de obra em muitas especialidades. E um dos principais objetivos da WorldSkills é mostrar o nível de excelência necessário no mundo para que cada país possa encontrar seu caminho”.

João Carosella, gerente técnico da Blaser SwissLube, destaca o papel da indústria: “A responsabilidade da indústria é determinante na formação desses jovens, ao fomentar o conhecimento de novas tecnologias e visão estratégica, ao dar oportunidades não apenas para o desenvolvimento profissional, mas também para o pessoal”. E em relação ao futuro, completa: “Sem a qualificação profissional, será árduo o atingimento de níveis competitivos globais. As oportunidades de atrair mais e novos investimentos no setor industrial serão cada vez mais raras”.

Claudio Camacho, presidente da Sandvik Coromant América do Sul, reforça: “É exatamente em um momento de crise como o de agora que temos de investir em nossos jovens, a fim de prepará-los para um futuro mais promissor. Já tenho algum tempo de experiência na área mecânica e industrial, mas confesso que fiquei muito orgulhoso e emocionado quando tive a oportunidade de ver os meninos em ação durante a competição.

Um evento muito bem planejado e indiscutivelmente bem executado. Como ex-aluno do SENAI, tive um orgulho enorme em ver nosso país organizando um evento desta magnitude. (…) Imagino o impacto positivo causado naqueles que estavam participando, direta ou indiretamente, e também naqueles tantos jovens que foram visitar o evento. (…) Além de despertar o desejo de competir, o evento também coloca em evidência a importância e o poder da formação técnica em um país com tantas carências como o nosso”.

O compromisso dos treinadores

Em visita à planta da Sandvik, em São Paulo (SP), dia 11 de agosto, na véspera da abertura oficial do evento, Alexandre Aviz, técnico preparador do competidor Eduardo Kruczkievicz — medalha de prata na categoria Torneamento CNC — nos contou um pouco sobre seu trabalho com esses jovens no SENAI Joinville, onde atua, e seu compromisso como treinador:

“Os meninos que participam da WorldSkills têm perfil bem competitivo e, na minha opinião, são motivados por eles mesmos; a gente só desperta essa motivação, procurando mostrar as novidades tecnológicas e trazendo desafios cada vez mais difíceis, para provar que eles são capazes. Também tentamos inspirar os outros alunos fazendo desses meninos competidores exemplos para que outros alunos possam se espelhar neles e querer estar onde eles estão. Ser algo de destaque para a indústria, esse é o papel do SENAI, pegar jovens, formar e levar profissionais para a indústria”.

Alaer Cardoso Junior, gerente de Unidade, e Edson Vander Lopes, coordenador técnico de negócio – educação profissional, ambos do SENAI em Cidade Industrial, Curitiba, visitaram o evento. Estavam orgulhosos de ver a participação dos brasileiros na competição, em especial, de terem se envolvido com o treinamento de Alesson Lopes, aprendiz da Escola Bosch-SENAI em Curitiba, que concorreu na categoria Modelagem de Protótipos.

Com entusiasmo, Cardoso definiu a importância do papel de educador: “Manter um programa de capacitação e formação profissional, em um nível de qualidade e excelência que habilite esses jovens a ingressarem na indústria, já formados, com todo o conhecimento técnico necessário para que eles tenham um futuro promissor”.

Em relação à formação desses jovens cidadãos, Lopes acrescenta: “É importante fazer com que esses talentos que estão aqui representando o Brasil consigam multiplicar tudo o que conheceram e aprenderam; mostrar todas as dificuldades que superaram para vários outros alunos. Esse é o nosso desafio, fazer com eles multipliquem essa experiência para as futuras gerações”.

Aviz acredita, ainda, que o caminho para atrair as novas gerações para dentro da indústria é levar as empresas para dentro das escolas técnicas e, dessa forma, mostrar o que fazem, estimulando o interesse dos alunos para trabalhar nessas organizações. “O intercâmbio entre empresa – escola, trazendo os alunos para conhecerem a realidade da indústria, é o que pode, no futuro, atrair mais os novos talentos de que a indústria necessita”.

Medalhistas

Na área de Produção e Tecnologia de Engenharia, tivemos a chance de entrevistar dois medalhistas, um dia antes do início da Competição, em visita realizada na planta da Sandvik do Brasil, em São Paulo/SP.

A influência da escola foi decisiva para Mailson Valerio de Oliveira, medalhista prata na categoria Engenharia de Moldes para Polímeros. Ele fazia o curso de mecânico de usinagem no SENAI, no bairro do Brás, em São Paulo (SP), quando conheceu o processo de ferramentaria que cria moldes para injeção de peças plásticas. Decidiu enveredar por esse caminho e não se arrependeu.

Na sua percepção, essa é uma área que vem crescendo bastante no mercado e a profissão escolhida tem futuro promissor: “Antigamente, muitas peças eram feitas em madeira, ou chapas metálicas e hoje em dia estão sendo substituídas por ligas, polímeros ou plásticos, e então acho que essa área só tende a crescer; e quanto mais polímero no mercado, mais moldes serão necessários e a área vai crescendo junto”.

Com um treinamento de 10 a 12 horas com acompanhamento full time de um professor, inclusive aos sábados quando necessário, Mailson declarou entusiasmado que participar da WorldSkills marcou para sempre a sua vida: “O ganho foi imenso tanto pessoal quanto profissionalmente. Além de ter conhecido muito a parte técnica, a parte pessoal também melhorou bastante em questão de comportamento, compromisso, responsabilidade, horário e pontualidade. Tive um ganho muito grande”.

Seu colega de SENAI (São Paulo/SP), Felipe Augusto Gutierra, ganhou medalha de ouro em Polimecânica e Automação, uma das categorias patrocinadas pela Sandvik Coromant. Em visita à planta da Sandvik, junto com Mailson, comentou que iria levar na bagagem toda a experiência e conhecimento que obteve em seu intenso treinamento: “A escola foi a minha casa, foram 3 anos de dedicação. (…) Vou levar não só o conhecimento técnico, mas a parte comportamental”.

Sobre o evento, acrescenta entusiasmado: “A Worldskills é show de bola”. “O mais legal é ver a cultura dos países, conhecer como as pessoas trabalham em outros lugares; é muito rico e legal ver as pessoas fazendo coisas parecidas, está tudo globalizado, tudo parecido”.

Quanto às suas expectativas, ele acredita que será “muito fácil que a indústria queira empregar um profissional capacitado” como os que participaram do evento. “Você ganha oportunidade depois de participar do mundial; o que mais você ganha é oportunidade, e se você quiser ir atrás você consegue” finaliza.

O legado da WorldSkills

A cerimônia de encerramento desse torneio de profissões aconteceu no último 16 de agosto, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, e emocionou a todos que estiveram presentes, ou que acompanharam, em tempo real, pelo respectivo site. Foi unânime o comentário de que tendo ganhado medalhas ou não todos eram campões.

Importante lembrar o tema geral selecionado para a Competição que foi “Escolha“. No Parque do Anhembi, vimos durante os quatro dias de evento, alusões como “Escolha Carreira”, “Escolha Sucesso”, “Escolha Sustentabilidade”, “Escolha Inovação”, Escolha Futuro”, “Escolha Ser o Melhor”… E o que se assistiu na ocasião do evento e culminou em seu encerramento foi o pulsar de energia e de garra, vontade e determinação tanto por parte de treinadores quanto dos organizadores e parceiros e, sobretudo dos competidores.

O florescer de profissionais cidadãos que escolheram contribuir com seus países e dar o melhor de si e encontraram respaldo na educação. Vamos escolher honrar, respeitar, aprender e multiplicar essa experiência única?

 

Vera Natale

Author Vera Natale

Sou consultora e especialista em Escrita e Comunicação Descomplicada. Ajudo empresas e pessoas a traduzir ideias e projetos em palavras fáceis de entender e comunicar no seu dia a dia, por meio de técnicas criativas.

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